Inflação alta e renda achatada do brasileiro fazem comércio despencar

Flávia Ivo
fivo@hojeemdia.com.br
14/09/2016 às 07:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:49

O comércio varejista no Brasil sofreu perdas generalizadas entre os oito segmentos investigados pelo IBGE na Pesquisa Mensal de Comércio, quando comparados os meses de julho de 2015 e deste ano. O recuo foi de 5,3%, com destaque para a retração na atividade de Móveis e eletrodomésticos (-12,4%).

“O consumo tem relação direta com a renda do trabalhador e com a taxa de juros, que são dois fatores que vêm inibindo uma melhora das vendas por causa da conjuntura econômica do país”, destacou a gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Isabella Nunes.
No acumulado dos primeiros sete meses do ano, a queda foi ainda maior, de 6,7%. Já no período de 12 meses encerrados em julho, o recuo verificado foi de 6,8%. 

Supermercados

Seis das oito atividades pesquisadas pelo IBGE reduziram na comparação mensal. Porém, as vendas de supermercados caíram em volume, mas subiram em receita – na comparação de julho com igual período do ano passado, a alta foi de 14,3%. 

Para Isabella Nunes, como o supermercado vende produtos básicos e de primeira necessidade, mesmo em período de aperto no orçamento das famílias, há um consumo regular nesses locais. Conforme a gerente, o aumento decorre da inflação dos alimentos no período.

Em BH

Na capital mineira, as vendas do comércio varejista caíram 1,67% no acumulado do ano, na comparação com o mesmo período de 2015. Apesar da queda, a retração é menor do que a observada no mesmo mês do ano anterior (-3,13%), de acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH).

A deterioração dos indicadores econômicos traz prejuízo ao desempenho do setor, afirma o presidente da entidade, Bruno Falci. “O aumento da inflação e do desemprego afetam finanças e geram impacto psicológico negativo nos consumidores”, diz.

“Mas a nossa expectativa é que o setor comece a se recuperar, aos poucos, neste semestre, já que temos a entrada de recursos extras na economia – como a antecipação do 13º salário e a restituição do imposto de renda – e a chegada do Dia das Crianças”, acrescenta.

As vendas do comércio da capital registraram queda de 2,61% em julho frente ao mesmo período de 2015. “A renda dos consumidores está cada vez menor e, com isso, as pessoas ficam mais receosas na hora das compras”, ressalta Falci. O segmento que apresentou mais queda foi o de papelarias e livrarias (-5,3%).

Supermercados aumentam preços, mas não perdem venda

Apesar da resistência da inflação de alimentos, os supermercados estão conseguindo repassar os aumentos de preços para o consumidor, o que evitou perdas maiores no volume vendido pelo setor, afirma a gerente da pesquisa do IBGE Isabella Nunes. 

Em julho, o volume vendido pelo comércio varejista recuou 5,3%, enquanto no de supermercados, a redução foi de 0,1%, bem menos intensa.

“A receita dos supermercados está alta, mas a inflação está alta também. Então, em termos de volume, fica quase igual. Eles estão garantindo a receita”, apontou Isabella.

Necessidade

Segundo a gerente da pesquisa, o setor provavelmente está roubando vendas de outras atividades, uma vez que comercializa itens de primeira necessidade e consumo contínuo. “Quem está comprando alimentos em julho de 2016 está pagando 16% a mais do que em julho de 2015”, acrescentou. 

Mesmo que os preços estejam mais elevados, há um limite para o corte de gastos com alimentação. Mas é possível economizar com outros itens, como bens duráveis, ressaltou a gerente do IBGE.

“Você deixa de consumir coisas mais caras, sobra mais para gastar em atividades que não têm como cortar, como supermercados”, avalia Isabella.

Recuperação do setor depende de conjunto de variáveis

As vendas no comércio varejista mostram uma tendência de estabilização na margem, mas ainda não é possível falar em recuperação, segundo Isabella Nunes. “Na margem (comparação com o mês imediatamente anterior), você observa vendas mais estabilizadas. Mas a recuperação é relativa, porque o varejo opera no mesmo patamar de 2012”, lembrou Isabella.

As vendas do chamado varejo ampliado, que incluem também veículos e materiais de construção, recuaram 0,5% na base mensal. Já na comparação anual, a queda foi de 10,2%. 

O resultado veio abaixo da expectativa dos analistas para a comparação mensal, de 0,8%, e acima da projeção para a variação anual, de 8,2%. 

No acumulado dos sete meses do ano, houve recuo de 9,4% nas vendas. Já no período de 12 meses encerrados em julho, a queda foi de 10,3%.



Na avaliação de Isabella Nunes, a retração nas vendas do varejo é consequência de uma piora no mercado de trabalho e na conjuntura econômica. Logo, uma recuperação no setor também depende da melhora dessas variáveis.

“A evolução do mercado de trabalho mostra condições de piora. A carteira de trabalho diminui, o total de desocupados aumenta, o rendimento cai, a massa de salários cai”, lembrou. 

 

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