Dragão ainda faminto

Inflação não deu trégua em 2022 e deve permanecer em alta no próximo ano

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 16/12/2022 às 08:00.

O ano de 2022 vai se despedindo e deixa no bolso dos consumidores as lembranças de um período com vários picos de inflação e preços nas alturas. O índice que mede o custo de vida da população brasileira chegou a bater a casa dos 12,8% no primeiro semestre. Porém, fechando as contas do ano, a expectativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é a de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche 2022 em 5,7%, bem abaixo do patamar do início do ano, mas acima da meta de 3,5% definida pelo governo para o período. 

E o alívio nas contas não está na lista dos presentes para 2023. O novo ano chega e, segundo o Ipea, os preços ainda continuarão altos, e a inflação deve ficar em 4,7%. Os vilões da carestia no próximo ano serão os alimentos, que devem registrar uma alta de 5,2%, enquanto os outros produtos devem ter inflação de 3,3%.

Para o economista da ACMinas, Paulo Casaca, os números, apesar de serem apenas expectativas, ajudam consumidores e empresários a planejar suas ações e devem ser observados com atenção. “Essa expectativa foi construída em cenários que consideram um aumento de gastos do governo, com a PEC da Transição, e o impacto de alguns preços, como a 'bandeira amarela' nas contas de energia, que traz um acréscimo nas contas”, diz.

O economista explicou que alguns aspectos poderiam puxar os preços para baixo no decorrer de 2023, como um desaquecimento da economia global ou uma safra de alimentos com melhores resultados, porém, segundo ele, o índice de 4,7% condiz com o cenário atual.

“Não há muito o que fazer para alterar as previsões de 2023. Quando o Banco Central se reúne para pensar taxa de juros, por exemplo, já está pensando em 2024. No próximo ano, a inflação deve, realmente, ficar acima da meta e convergir ao previsto em 2024”, avalia Paulo Casaca.

Vilões de 2022
A alimentação é o principal fator de aumento da inflação em 2022, segundo o Ipea. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que faz essa medição, mostram que houve uma alta generalizada. Mas alguns produtos se destacam. A cebola, por exemplo, em novembro, registrou alta de 130% nos sacolões de Belo Horizonte; batata ficou 62% mais cara; a maçã subiu mais de 90%; e o feijão custou 16% a mais. Preços que causaram indigestão nos consumidores.

Para a economista Mafalda Valente, professora das Faculdades Promove, se olharmos apenas para o preço dos alimentos, que pesam muito para as famílias e chegam rápido no bolso da população, é possível acreditar em um ano novo melhor do que este que termina.

“Não existe previsão de nenhum grande incidente climático e existe a previsão de uma boa safra de alimentos para o próximo ano, isso poderia reduzir alguns preços. Se de um lado existe uma pressão inflacionária no preço da energia, dos combustíveis, os alimentos podem trazer um bom cenário no próximo ano”, destaca.

A diarista Maria das Graças diz esperar que 2023 seja uma ano mais fácil de se levar, com alimentos mais em conta. "Nossa, esse ano foi difícil demais. Praticamente não pude comer carne e até mesmo os legumes estavam pesados. Fiquei no básico", lamenta.

PIB em alta
O Banco Central (BC) revisou a projeção de crescimento da economia para este ano, de 2,7% para 2,9%. A estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, está no Relatório de Inflação, divulgado nesta quinta-feira (15) pelo BC. Para 2023, a projeção de crescimento do PIB continua em 1%.

O crescimento maior, segundo o BC, veio do setor de serviços. Agricultura e indústria registraram desaceleração no último trimestre. Porém, para os serviços, a estimativa de crescimento em 2022 passou de 3,4% para 4,1%, puxando a expectativa de PIB para cima. 

Uma das explicações é o aumento do consumo das famílias, que estão gastando mais. O índice subiu de 3,9% para 4,2%. Para 2023, a projeção de crescimento foi influenciada pela “manutenção da perspectiva de arrefecimento na demanda interna e nos componentes mais cíclicos da oferta”.

O relatório do BC diz que “discussões sobre o orçamento de 2023 apontam para maior expansão dos gastos primários [gastos relacionados aos serviços públicos, sem considerar pagamento de empréstimos] do que a prevista na legislação atual, em especial os associados a transferências às famílias [como o Bolsa Família]”. Para o BC, esse aumento de gastos pode ajudar, pelo menos no curto prazo, a manter a demanda por bens e serviços.

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