Inspetor da Anvisa fala sobre qualidade de transporte de medicamentos

Agência Brasil
19/04/2021 às 18:05.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:43
 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Especialista em fiscalização e inspeção de medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Felipe Augusto Gomes Sales disse, nesta segunda-feira (19), que farmacêuticas e transportadoras precisam investir mais recursos em tecnologia para garantir que os remédios cheguem a todo o território brasileiro sem perder a eficácia.

“Hoje, isto não ocorre em todas as partes do país”, afirmou Sales durante um webinário sobre boas práticas de distribuição e armazenamento de medicamentos. Realizado pela Anvisa, o evento foi aberto à participação de representantes dos órgãos de vigilância sanitária estaduais e municipais, bem como de funcionários de produtores de remédios.
 Marcelo Camargo/Agência Brasil / N/A

Transportadoras precisam investir mais recursos em tecnologia 

Para o inspetor sanitário, a Resolução de Diretoria Colegiada nº 430 (RDC 430), em vigor desde o mês passado, veio “preencher um vazio no marco regulatório” do setor, estabelecendo requisitos de boas práticas de transporte, distribuição e armazenagem de remédios, de maneira que estas etapas sejam tratadas com o mesmo rigor usado para fiscalizar a produção de medicamentos. O que, segundo Sales, não acontecia.

“Trabalhei na área farmacêutica e inspecionei distribuidoras Brasil afora. A gente observa que, saindo dos grandes centros, há um relaxamento quanto ao controle de temperatura, das especificações de produtos”, acrescentou Sales ao garantir já ter se deparado com produtos prontos para o consumo armazenados de forma inadequada.

“Já vi a armazenagem feita a 42°C, em condições inadequadas. Inclusive em grandes distribuidoras”, comentou o inspetor sanitário ao elencar três desafios para toda a cadeia logística.

“É preciso qualificar o transporte de medicamentos. Mapear as rotas de transporte e controlar e monitorar a temperatura e a umidade durante todo o trajeto a fim de evitar que estes produtos sejam entregues ao consumidor fora de suas especificações”, disse Sales, destacando a questão do transporte aéreo.

“Temos um problema sério com a questão do avião, que é muito usado, mas sobre o qual não há uma regulamentação específica. Há um altíssimo risco de perda da qualidade do produto quando ele é colocado em uma condição aberta, por muito tempo”, comentou Sales, admitindo a necessidade de uma regulamentação específica para o transporte de cargas de medicamentos.

“Sabemos das dimensões do nosso país, da complexidade de se distribuir medicamentos ou qualquer produto, e cada elo da cadeia logística tem sua responsabilidade”, acrescentou o inspetor, assinalando que a observância das boas práticas é fundamental para a indústria farmacêutica.

“Não adianta fabricar algo com alto padrão de qualidade, garantir que o insumo matéria-prima utilizado venha de fornecedores qualificados e, após esta etapa, perder o controle”, concluiu Sales.

A Agência Brasil tentou ouvir a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), entidade que representa o setor produtivo no Brasil, mas ainda não obteve resposta. Consultada sobre as declarações do inspetor sanitário, a Anvisa também ainda não se pronunciou. 

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