Embora tenha deixado o prédio do Instituto Lula, na zona sul de São Paulo, intacto após 32 horas de ocupação, o grupo de sem-terra que invadiu quarta-feira (23) o escritório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupou a geladeira do local. Após a saída dos invasores, os funcionários do Instituto perceberam que, além do estoque de rapaduras do caseiro, a geladeira estava vazia.
Entre os itens consumidos pelos estudantes e assentados que passaram a noite no local estava o estoque de carnes da ex-primeira-dama Marisa Letícia, as frutas do ex-presidente (ele tem o hábito de comer frutas pelo menos três vezes ao dia), a manteiga francesa de uma assessora e as tâmaras israelenses de uma auxiliar. "Não sobrou nada", comentou um funcionário.
Chamados pelo diretor-presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, de "convidados", os invasores também se "apropriaram" dos jornais da entidade e leram toda a repercussão da invasão do prédio. Além das publicações nacionais colocadas à disposição dos invasores em uma bancada do quintal do prédio, os estudantes e sem-terra se inteiraram do noticiário do El País (Espanha), Le Monde (França) e Corriere Della Sera (Itália). Por volta das 14 horas, o grupo de aproximadamente 80 pessoas deixou pacificamente o prédio e, após uma vistoria dos funcionários, não foi detectado nenhum dano às instalações.
Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira, o Instituto declarou ser solidário à causa das 68 famílias do assentamento Milton Santos, em Americana, no interior paulista. "Reiteramos nossa solidariedade à causa das famílias do assentamento. Esperamos que elas permaneçam nas terras onde vivem e produzem. Lamentamos, todavia, que o Instituto tenha sido colocado como parte de um problema que não está na sua alçada", diz a nota. Na tarde desta quinta, os sem-terra se reúnem com a direção do Incra para negociar medidas que impeçam a reintegração de posse marcada para o fim do mês.
Ainda de acordo com a nota, o Instituto foi criado para "preservar o legado dos governos do presidente Lula e para trabalhar em projetos de desenvolvimento social na África e pela integração da América Latina". "A questão agrária não está entre os seus objetivos institucionais", reforça a entidade.
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