Itaú Cultural traz clássicos e inéditos de Jorge Andrade

Agencia Estado
20/02/2013 às 10:36.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:10

A memória não é território apenas da verdade, mas também da invenção. Rememorado, o passado não emerge nunca em seu estado de pureza. As lembranças sobrepostas, corrompem-no. Cada tentativa de retroceder no tempo exige também uma parcela de imaginação.

Mescladas à ficção, as reminiscências serviram de inspiração a Marcel Proust - e ao seu monumental Em Busca do Tempo Perdido -, a Pedro Nava - maior memorialista brasileiro -, a Jorge Andrade - que transformou o vivido em matéria essencial para o seu teatro.

Considerado o mais paulista entre os nossos autores, Andrade (1922-1984) forjou seus dramas a partir do mundo que trazia dentro de si. Impregnou tudo com as experiências pessoais e familiares. Reconstruiu, qual arqueólogo, as paisagens, os objetos, as vozes que o formaram.

"É um escritor muito coerente, que resgatou a história da sua família e da classe dos cafeicultores", comenta Beth Azevedo, professora e estudiosa da USP, que assina a curadoria do ciclo Presença de Jorge Andrade.

Promovida pelo Itaú Cultural, a programação, que ocorre de sexta-feira (22) a domingo (24), discute a importância da memória na obra do dramaturgo. Mas quer ir além. "Esse traço do resgate familiar é o mais lembrado quando se trata de Jorge Andrade. O que não quer dizer que ele se prenda ao passado", observa a curadora, que também incluiu no evento textos de conotação política do autor e suas experiências com teledramaturgia. "Conforme sua obra evolui, ele amplia o quadro temático. Discute fenômenos como o messianismo. Estuda sempre muito antes de tratar de um tema. Mas filtra tudo pelo olhar da experiência para tornar suas personagens humanas."

É a partir desse pressuposto que o primeiro título a ser apresentado no evento é o registro em vídeo de Vereda da Salvação. Montada por Antunes Filho em 1993, a peça é um relato épico. Mostra um grupo de trabalhadores rurais capturados pelo fanatismo religioso. Evoca Os Sertões, de Euclides da Cunha. Não poderia, portanto, ser considerada propriamente como autobiográfica. Mas bebe diretamente no convívio que o artista teve com os camponeses.

PRESENÇA DE JORGE ANDRADE - Itaú Cultural. Av. Paulista, 149, tel. 2168-1776. 6ª e sáb., 17h30, 19 h, 20 h; dom., 19 h. Grátis. Até 24/2

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo
http://www.estadao.com.br

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