Jornalista escreve sobre a convivência com o filho autista

Viviane Moreno
vmoreno@hojeemdia.com.br
01/04/2017 às 11:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:58

Em se tratando de filho, qualquer resfriado já tira os pais do prumo. Por isso é quase inevitável a identificação imediata de quem vive a experiência da paternidade com o relato íntimo do jornalista carioca Luiz Fernando Vianna em “Meu Menino Vadio – Histórias de um Garoto Autista e Seu Pai Estranho” (Intrínseca, 208 páginas, R$ 44,90), sobre ele e o filho Henrique, hoje adolescente. 

Aos problemas financeiros e à falta de empatia ou de tato das pessoas encontradas pelo caminho, somaram-se a dificuldade de receber o diagnóstico (só chegou quando Henrique tinha 4 anos e dezenas de consultas médicas na bagagem), de estabelecer uma rotina possível, as esperanças quase sempre frustradas de encontrar tratamentos milagrosos e profissionais qualificados. 

E no meio disso tudo, uma separação litigiosa, com a mãe levando o filho, então com 5 anos, para morar na Austrália. Reencontros anuais, dificuldades de aproximação seguidas de despedidas e novas adaptações, já seriam difíceis para qualquer criança “normal” por causa da diferença de língua e da necessidade de começar vínculos de confiança praticamente do zero. Imaginem para Henrique!

Os capítulos de “Meu Menino Vadio” são nomes ou trechos de músicas. Escolha natural para Luiz Fernando Vianna, que já publicou cinco livros sobre música popular

Com a chegada da adolescência e os hormônios aflorados, outra mudança significativa: Henrique passa a viver um ano no Brasil com o pai e outro ano com a mãe nos Estados Unidos, para onde ela se mudou com o marido e os filhos.

Sem dourar a pílula
O autor escreve com muita franqueza sobre as limitações do filho por causa do autismo, e dele próprio, como pai. Sua intenção, explica, é que o livro um dia ajude a filha, dez anos mais nova que Henrique, a compreender o pai e o irmão.

Quando escreve sobre ele próprio, Luiz Fernando é extremamente crítico. Sincero, diz que não teria tido filho se soubesse previamente o que teriam que enfrentar por toda a vida – mas ressalta que o ama “mais do que qualquer palavra pode traduzir”. Escreve sobre o pai alcoólatra, a dificuldade de se relacionar com outras pessoas, os pensamentos suicidas e o medo que teve de que a outra filha também fosse autista. 

Mas, a despeito de tudo isso, o texto não é pesado. O autor usa de humor, ironia e delicadeza para contar situações das mais diversas vividas em família. E o relato íntimo é também informativo, trazendo um panorama geral do que se sabe sobre o autismo hoje, as lutas, os desafios e as conquistas.

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