Jovens das favelas querem investir no próprio negócio

Aline Louise - Hoje em Dia
22/09/2014 às 08:03.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:18
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

“Se eu puder, quero ser patrão”. O sonho de Alexander Marques, de 34 anos, morador do Alto Vera Cruz, região Leste de Belo Horizonte, é o mesmo de muitos jovens brasileiros moradores de periferias. Pesquisa realizada pelo Instituto Data Favela aponta que 35% dos jovens dessas áreas, com idade entre 16 e 29 anos, têm intenção de um dia abrir o próprio negócio. Para 28% deles, não ter chefe seria a principal vantagem.

Alexander concluiu o ensino médio, chegou a fazer um curso técnico de mecânica industrial, não terminou porque a remuneração oferecida no estágio obrigatório era muito baixa para arcar com as despesas.

Preferiu desistir e investir no trabalho. Ajudou o pai com venda de persianas, foi motoboy, motorista particular, mas sempre quis abrir o próprio negócio.

Pensou primeiro no ramo alimentício, mas foi desestimulado pela necessidade de investimento alto e toda burocracia. Há três meses conseguiu contatos para revender roupas femininas em jeans. “Não está 100%, mas está funcionando”, diz.

Alexander vende de porta em porta. Os clientes vêm da indicação de amigos, parentes e pela internet, onde ele anuncia os produtos, principalmente no Facebook e no WhatsApp.

Aumentar essa clientela é o principal desafio agora. “Tem que ter disponibilidade financeira para ir atrás das pessoas”, explica. Ele acredita que, se abrir uma loja, será mais fácil atrair clientes. “Se eu abrir aqui no Alto Vera Cruz vou ganhar muito dinheiro. Tudo aqui vende”, comenta.

Mas para ter um ponto, calcula que precisará triplicar as vendas. Isso para dar conta das despesas, principalmente do aluguel. “Andei pesquisando. O aluguel de um box em uma feira popular é cerca de R$ 500, ainda tem a água, luz, taxas. Em alguns lugares cobram a ‘luva’, que é um valor para você entrar lá, que pode variar entre R$ 2 mil e R$ 5 mil”.

A primeira meta de Alexander é ter a loja na comunidade, mas não vai parar por aí. “As pretensões são para hoje e para amanhã. Se eu conseguir abrir aqui, em pouco tempo estou com uma filial. Sonho alto, sonhar não paga!”.

Apesar das dificuldades, Alexander considera muito mais vantajoso ter o próprio negócio do que trabalhar de carteira assinada. “Trabalhando de forma independente eu sempre pago minhas contas em dia, troco minha moto a cada dois anos. Com a carteira assinada, mal dá para manter as prestações em dia. Sem contar que posso controlar meu horário, fazer as coisas do meu jeito”, enumera.

84% dos brasileiros valorizam autonomia

O espírito empreendedor é uma característica do jovem abrasileiro, afirma o diretor de operações do Sebrae Minas, Fábio Veras. Segundo a última edição da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM/2013), 84% dos brasileiros consideram que abrir a própria empresa é uma boa opção de carreira.

De acordo com este mesmo estudo, 50% dos empreendedores com até três anos e meio de atividade têm entre 18 e 34 anos.

Cristina Evangelista, de 32 anos, está neste grupo. Ela se formou em Administração. A partir daí, trabalhou com carteira assinada como gerente de loja, no varejo e também no atacado. Juntou as duas experiências para colocar em prática o sonho de ter o próprio negócio.

Em parceria com a sócia, Sabrina Zica, estudou e pesquisou por cerca de um ano. Como gostavam de moda, escolheram o ramo de roupa feminina. Seguiram tudo que recomendam os especialistas e não abriram mão de um bom plano de negócios. “Ele é o rumo, aborda todas as áreas da administração e dá um rumo para a pesquisa”, diz. Em 2011, com investimentos próprios, abriram a loja Hi-Lo, em Lourdes, zona Sul de BH.

“É um grande desafio e algo muito arriscado. Você não tem a segurança de um trabalho fixo, mas, ao mesmo tempo, é uma grande realização profissional. E tem o lado da flexibilidade, de poder fazer as coisas de acordo com o que gosta, autonomia. Mas é muita responsabilidade”.

Ainda assim, Cristina nunca pensou em desistir. Na verdade, ela só pensa em ampliar. Agora tem investido muito na loja virtual. “É uma tendência”, garante. 

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