Juros batem recorde e desestimulam consumo e investimentos no setor produtivo brasileiro

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
27/06/2016 às 20:05.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:05
 (Cristiano Machado)

(Cristiano Machado)

Os juros cobrados pelos bancos na tomada de crédito bateram recorde em maio. A taxa média cobrada ficou em 32,7% ao ano, o maior percentual da série histórica, iniciada em março de 2011. Só o incidente sobre o rotativo do cartão de crédito - a modalidade mais cara no país - chegou aos 471,3% em 12 meses, segundo boletim divulgado ontem pelo Banco Central (BC).

Nas operações de crédito pessoal para pessoas físicas, excluindo o consignado, os juros médios somaram 129,9% ao ano em maio. Já os consumidores que tomaram recursos emprestados na modalidade consignada (com desconto na folha de pagamentos), pagaram 29,6% ao ano.

“O brasileiro vive uma situação complicada. Ao mesmo tempo em que a renda foi achatada pela inflação e pelo desemprego, a tomada de crédito também ficou mais cara. E esse é o momento em que as pessoas mais precisam de empréstimos para bancar suas necessidades básicas”, afirma o economista da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer.

De fato, a tomada de crédito por parte das pessoas físicas teve uma pequena elevação. Os bancos emprestaram para elas R$ 800 bilhões em maio, valor que superou em 0,5% o tomado no mês anterior. Mas esse aumento não significa um aquecimento para o comércio. Apenas indica que as pessoas estão com mais dificuldades para arcar com as despesas básicas.
Segundo o economista da Fecomércio Minas, Guilherme Almeida, a alta dos juros impacta negativamente sobre o consumo, principalmente de bens duráveis, que são mais caros. “O consumidor passa a ficar com temor de se endividar, principalmente em um contexto de crise”, diz.

A presidente da Associação dos Lojistas da Savassi, Maria Auxiliadora de Souza, já sente na prática esses reflexos. “Sou lojista há 25 anos e posso dizer que nunca passamos por uma crise tão forte. E, com certeza, que essa restrição do crédito tem parcela de responsabilidade sobre isso, porque tira dinheiro da praça”, afirma.

Mas não só o comércio sofre com essa realidade. O custo médio dos créditos às empresas, de todos os setores, ficou em 21,9% ao ano em maio, valor 3,1 pontos percentuais maior do que no mesmo período de 2015. Na prática, a alta tem sido mais um fator de desestímulo ao investimento no setor produtivo. “Com o custo do dinheiro mais alto, as empresas investem menos. Para o Brasil, significa um atraso na retomada do crescimento”, afirma Storfer.

Além dissoLevantamento divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) diz que a crise econômica que atinge o Brasil começa a perder fôlego. Apesar disso, ainda há um longo caminho para a recuperação do país, de acordo com o coordenador do Grupo de Conjuntura do Ipea, José Ronaldo Souza Júnior. Os dados constam na Carta de Conjuntura, que avalia dados econômicos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o Ipea, os sinais de que a crise está perdendo fôlego podem ser percebidos principalmente na indústria nacional. Além disso, a desvalorização do real ante o dólar, de acordo com o Ipea, beneficia o setor exportador brasileiro, principalmente nos segmentos têxtil, madeireiro e de calçados.Além de aumentar a competitividade brasileira no setor externo, a desvalorização do real também está estimulando a substituição de importação na produção de alguns bens intermediários, ou seja, nos insumos usados pelo setor produtivo. Por outro lado, no entanto, a moeda nacional desvalorizada torna a importação de máquinas e equipamentos mais cara, prejudicando investimentos no setor produtivo.
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