(Editoria de Arte)
O cartão de crédito, modalidade de empréstimo mais cara no país, alcançou o maior patamar de juros desde outubro de 1995, 451,44% ao ano e 15,29% no último mês em agosto, para desespero dos consumidores. Os juros altos deverão, na visão de especialistas, afundar os brasileiros em mais dívidas e atrasar a saída do país da crise.
Segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média de todas as modalidades de crédito está em 155,48%, a maior em 13 anos, quando estava em 158,33% anuais. Há exatos 23 meses, a taxa média segue em alta.
Reflexo
O resultado reflete a elevação dos juros praticados em cinco das seis modalidades analisadas pela entidade, entre julho e agosto. Apenas o chamado Crédito Direto ao Consumidor (CDC), usado para financiar automóveis, manteve a taxa anual de 31,84% entre os dois meses. As demais apresentaram elevações.
O cartão de crédito, por exemplo, passou de 447,44% para 451,44%. Da mesma forma, o cheque especial subiu, passando de 293,79% para 296,33% entre julho e agosto.
A principal justificativa para alta dos juros é econômica. O achatamento da renda, altas da inflação e do desemprego são fatores de risco para o sistema financeiro. Ou seja, aumentam o risco de o consumidor não pagar o valor devido. A taxa mais alta visa garantir a lucratividade dos bancos, como pondera o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen.
Apesar de conhecer bem a explicação na teoria, na prática, o economista discorda. “Essa justificativa de risco de inadimplência não explica de jeito nenhum uma taxa superior aos 400%. Não consigo achar aceitável”, critica.
Efeito
Para especialistas, os brasileiros passam a consumir menos por causa dos altos juros, o comércio vende menos e a indústria tem menor estímulo para produzir. E a roda da economia passa a girar cada vez mais lentamente.
“Quando as taxas sobem, os consumidores passam a ter mais dificuldade de pagar as dívidas. Ou seja, vira uma bola de neve”, pondera o vice-presidente da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira.
Futuro
As expectativas de mercado são de alta dos juros pelo menos até 2017. Dessa forma, o consumidor terá que controlar bem as contas. Oliveira dá como dicas evitar financiamentos caros, como os do cartão de crédito e do cheque especial. Além disso, antes de tomar dinheiro emprestado, é preciso pesquisar muito porque as taxas variam bastante entre as instituições.
Se o empréstimo for inevitável, o ideal é tentar quitá-lo no prazo mais curto possível. Assim, os juros incidentes serão menores. Às vezes, a negociação direta com o credor pode ser melhor do que procurar um banco.