(REPRODUÇÃO)
A cada ano que se celebra a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, durante a Semana Santa, as perguntas se repetem: o filho de Deus realmente existiu? Há alguma referência sobre ele além do que está na Bíblia Sagrada?
“A resposta é sim”, assinala o professor mineiro Alex Fernandes Bohrer, especialista em História da Arte e iconografia cristã que acaba de lançar, pela Chiado Books, o livro “Jesus – Um Breve Roteiro Histórico para Curiosos”.
Segundo ele, nenhum grande pesquisador duvida da “existência de um Jesus histórico, um personagem real que perambulou na Palestina há dois mil anos, de origem provavelmente humilde e que trouxe uma mensagem que incomodou muitas pessoas e, por isso, foi executado”.
Além dos evangelhos canônicos, presentes na Bíblia, as referências a Jesus são encontradas em evangelhos apócrifos e citações de historiadores romanos do período, que falam principalmente de sua execução.
Bohrer lembra ainda que, em 1947, foi encontrado ao sul da Judeia, na Ásia, um farto material que ficou conhecido como os manuscritos do Mar Morto. Eles foram escritos por essênios, seguidores da doutrina de judeus que viveram entre os séculos II a.C e 70 d.C.
“Eles contam com partes da Bíblia antiga em hebraico e muitos documentos teológicos novos, lançando muita luz sobre o contexto da vida de Jesus”, registra o professor, que também destaca as descobertas feitas em escavações arqueológicas em torno de lugares citados no Novo Testamento.
Bohrer ressalta, porém, que é preciso separar o personagem do ente religioso e teológico em que foi transformado após a sua morte. “Foi Paulo que, sendo um homem culto e autor dos documentos mais antigos do cristianismo, que aquele era o messias que tanto esperavam”.
Neste aspecto religioso, uma das informações mais polêmicas diz respeito ao nascimento de Jesus. “Provavelmente ele nasceu quatro anos antes da data tradicionalmente aceita. E não teria sido em 25 de dezembro, que era data que os romances celebravam o nascimento do Sol. Seria uma coincidência muito grande”, afirma.
O mito mais fácil de ser derrubado é em relação à imagem de Jesus, em que se perpetuou a ideia europeia de um homem loiro, de olhos azuis, alto e cabelos longos. “Ele era um semita, personagem típico do Oriente Médio”, aponta, baseando-se em estudos sobre a época.
Nesta concepção, Jesus teria cabelos crespos e uma pele morena queimada de Sol, olhos negros e cabelos curtos, já que as madeixas longas não eram comuns. Barba sim; muitos semitas deixavam os pêlos crescerem no rosto. Alto, dificilmente. “Esqueletos deste período tinham entre 1,60m e 1,65m. Eram baixos do que a média atual”.
A figura frágil como muitas vezes foi mostrada em quadros e filmes também está longe de ser uma verdade. O escritor frisa que Jesus andava muito e, devido à profissão de carpinteiro, deveria ter muita força física. “Uma semana antes de morrer, ele expulsou os vendilhões do Templo de Jerusalém com chicote”.
As lendas e dúvidas não obscurecem a certeza de que Jesus é o personagem mais importante da história ocidental, muito provavelmente da história da humanidade. Especialmente a partir da ressurreição. Acredite-se nela ou não, “o que aconteceu ali mudou a nossa história, com todos os valores se afetando nesta crença”.