Uma garota de 12 anos às voltas com os medos, sonhos e descobertas. Os medos? De mudar para outra cidade por causa do emprego novo do pai e de não ser bem aceita pelos colegas da nova escola. O sonho? O de conhecer o mar, com direito a registrar em um caderninho todos os planos para a viagem prometida de presente de Natal. A descoberta fica por conta do primeiro amor, justo por aquele menino metido e implicante.
Uma história como tantas outras, não fosse o pano de fundo de “Mariana” (Editora inVerso, 112 páginas, R$ 35), segundo livro infanto-juvenil de Ana Rapha Nunes. A trama se desenvolve nas cidades mineiras de Timóteo e Mariana, às vésperas do maior desastre ambiental da história do Planeta, ocorrido na cidade histórica em novembro de 2015, e que deixou marcas profundas na natureza e nas pessoas.
A autora de 35 anos diz que a ideia para o livro surgiu logo após a tragédia. “Um dia antes, eu havia lançado o meu primeiro livro, ‘A Lua que Eu Te Dei’. Eu estava muito feliz, radiante, vivendo um momento único em minha vida, o início de um sonho”, relembra. “E no dia seguinte aconteceu tudo aquilo. Fiquei abalada com a situação, pensando naquelas pessoas, no quanto estavam sofrendo. Então, senti que precisava falar sobre o ocorrido e, assim, surgiu ‘Mariana’”, conta a autora, formada em Letras e que leciona Língua Portuguesa para adolescentes há mais de dez anos.
Trabalho de pesquisa
Até então, a escritora carioca radicada desde pequena em Curitiba só tinha visitado Minas Gerais na infância. “Tive que pesquisar muito, só que hoje a tecnologia nos ajuda. É possível viajar pelas cidades com alguns aplicativos. Além disso, busquei conversar com pessoas da região para poder ter diversos relatos de como tudo ocorreu, conseguir maior verossimilhança”, diz Ana Rapha, ressaltando que a história é ficcional, mas com base na realidade.
“A menina Mariana é ficção, no entanto tudo o que acontece na tragédia é realidade. Busquei muitas fontes para poder escrever. A coleta de dados e o seu encaixe no desenvolvimento da trama foi o momento mais delicado da escrita”, relata ela, que, no livro, descreve lugares, costumes e sabores de Minas, além do que aconteceu pós acidente, incluindo o resgate, as doações, as perdas, a chegada de voluntários e jornalistas de todo canto, o abrigo, o hotel e a tentativa de retomar as vidas atingidas de forma tão abrupta.
Retorno positivo
O resultado foi aprovado pelos leitores. “Estive em BH no final do ano passado lançando o livro. E muita gente adquiriu a obra e depois, pelas redes sociais, veio me dizer o que achou. Fiquei feliz por corresponder às expectativas, ver que as pessoas se identificavam com os lugares descritos e também como a história mexeu com elas”, comemora, revelando que o próximo livro já está a caminho e trará reflexões sobre o uso da tecnologia por crianças e adolescentes.
Para relembrar:
Em 5 de novembro de 2015, a barragem de Fundão, da mineradora Samarco, se rompeu e despejou 35 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos de mineração no rio Doce. O tsunami devastou Bento Rodrigues, distrito de Mariana, matou 19 pessoas e 11 toneladas de peixes, afetou quase 40 municípios e contaminou 80 quilômetros quadrados de mar, no Espírito Santo.