(Lucas Prates)
O consumidor belo-horizontino, que nunca esteve tão endividado, enfrenta, além de um frio inédito, a tentação das promoções antecipadas das coleções de inverno nas lojas de moda.
Para impulsionar vendas e evitar encalhe de estoque, os lojistas incluíram roupas mais quentes no mix, cortaram nas margens de lucro e estão iniciando mais cedo as liquidações para mudança de coleção.
O problema é convencer a clientela a fazer mais dívida. Com o desemprego em 11%, quase metade da população (48,7%) não tem conseguido pagar as contas em dia, conforme mostrou matéria publicada ontem pelo Hoje em Dia, com base na pesquisa realizada pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG).
Para não fazer parte da estatística, a funcionária pública Alessandra Sabino afirma que avalia sempre se precisa daquele produto antes da comprar.
“Sei que as promoções das lojas estão mais agressivas por causa crise. Já recebi mensagens no celular e vendedoras me ligaram dizendo que estão parcelando e vendendo com desconto. Mas, se eu não preciso eu não compro”, diz. Ela pensa um pouco e refaz a frase. “Se o preço for muito bom e eu for usar muito, eu até penso na possibilidade”, diz.
“A sociedade impõe que estejamos sempre bonitos, cheirosos e na moda”, afirma o consultor de finanças pessoais e professor de Finanças da Faculdade Novos Horizontes, Paulo Vieira. “E isso é uma baita pressão, que nem sempre é fácil de segurar. O comércio tenta nos seduzir o tempo todo”, diz.
A solução, segundo ele, é colocar no papel os ganhos e gastos e comprar apenas o que for indispensável. Segundo Vieira, a definição de “necessidade” muda de uma pessoa para outra, motivo pelo qual comprar “o que está precisando” pode ser uma roubada.
Como pagar
Quem não tem controle do dinheiro deve evitar o cartão de crédito, sugere o especialista. Embora o dinheiro de plástico seja uma excelente forma de pagamento, com ótimas vantagens para quem sabe usá-lo, o consumidor não sente o dinheiro saindo do bolso e pode acabar se dando mal.
Os juros do crédito rotativo do cartão, por exemplo, bateram em 471,3% ao ano, segundo o último levantamento divulgado pelo Banco Central, relativo a maio.
O cheque especial também deve ser evitado. Em maio ele chegou a 311,3%, a maior taxa da série histórica da pesquisa, iniciada em 1994.
“Não está na hora de pegar empréstimo para comprar o supérfluo. Esse é o recado”, diz o especialista.
Comércio não consegue vender sem fazer promoções
Não há espaço para que os comerciantes aumentem margens de lucro. O motivo é simples: “Sem promoção o cliente não compra mesmo”, avalia o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar . “O consumidor não está confiante com os cenários político e econômico. Por isso, ele só compra quando há vantagens reais. Ou quando há necessidade real”, diz o vice-presidente da CDL-BH.
Para atrair clientes, a supervisora das lojas da rede Fab Store, Ariane Pereira, diz que os preços foram reduzidos de fato. E depois de fisgar o cliente, as vendedoras tentam vender o look completo. “Os preços estão baixos e nós dividimos em muitas parcelas. A pessoa consegue comprar tudo aqui, da calça ao chapéu”, diz.
O especialista em finanças pessoais, Paulo Vieira, lembra, porém, que “caber no bolso” não é motivo para realizar a compra. “É necessário analisar os juros e a capacidade de pagar por aquele produto”, diz. Ele destaca que várias pequenas parcelas se transformam em uma grande fatura.
Na K9 os preços também estão lá embaixo, segundo o gestor comercial da empresa, Anderson Borges. Os descontos chegam a 50% em todas as peças, inclusive nas de frio. Ao antecipar as promoções, a expectativa de Borges é a de que as vendas aumentem até 30% na comparação com o ano passado. “Começamos a estação liquidando e já temos um diferencial. Quando as outras lojas começarem a fazer as promoções, quem precisa já comprou conosco”, diz.
Na Villa Vittini as botas e sapatos saem com 75% de desconto. Segundo o gerente da unidade do BH Shopping, Daniel Vignoli, as vendas sempre aumentam nesta época do ano e a previsão é a de que elas sejam impulsionadas pela promoção. “Com os descontos vamos vender mais do que no ano passado”, aposta.