Longa baseado no clássico "On The Road", de Kerouac, chega às telonas

Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia
13/07/2012 às 11:55.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:32
 (Playarte/Divulgação)

(Playarte/Divulgação)

Adaptar "On the Road", de Jack Kerouac, para o cinema é como tentar roteirizar "Dom Casmurro", de Machado de Assis, ou "Ulisses", de James Joyce. Tarefa quase impossível. Nos três casos, são obras-primas que conquistaram reconhecimento mundial graças à escrita diferenciada de seus autores e não por terem tramas mirabolantes.

Assim, é possível dizer que Jose Rivera foi bem-sucedido ao desenvolver o roteiro do filme "Na Estrada", que chega nesta sexta-feira (13) aos cinemas brasileiros. Dirigido por Walter Salles, o longa-metragem nem de longe consegue expressar a importância da obra de 1957 – que mudou paradigmas da literatura norte-americana e foi fonte de inspiração para a contracultura da década seguinte –, mas expressa bem a viagem de loucuras, sexo e drogas em que o narrador, Sal Paradise, esteve envolvido. Em especial, soube mostrar a estranha relação de amor e amizade que havia entre os dois protagonistas – Sal (Sam Riley) e Dean Moriarty (Garrett Hedlund).

Difícil tarefa

Salles sempre soube do enorme desafio de se levar "On the Road" para o cinema. Recebeu o convite para o projeto em 2004, após o lançamento de "Diários de Motocicleta". Como não sabia se era viável colocar a ideia em prática, decidiu fazer um documentário que partisse em busca de um filme possível. Conseguiu mais de cem horas de entrevistas, inclusive com poetas beats vivos. Mas o documentário acabou sendo adiado, e o cineasta tomou coragem para assumir a difícil missão.

O livro descreve quatro viagens de seu protagonista pelo interior dos Estados Unidos, de Nova York a São Francisco, com paradas em Nova Orleans, Denver, Chicago e, até, uma passada pelo norte do México. De forma totalmente peculiar, Kerouac descreve pessoas, cidades, festas, conversas, pequenos delitos, caronas, trabalhos informais.

Para quem leu, vai ficar claro que o roteirista pinçou os melhores momentos da obra e as transformou em peças de um quebra-cabeça para criar uma narrativa palatável. Algumas situações foram tiradas da ordem em nome da cinematografia.

Uma cena que descreve uma noite alucinada no Harlem, em meio a shows de jazz bebop, presente na terceira parte do livro, foi levada para o início do filme.
Fez crescer alguns personagens e fatos. Carlo Marx, por exemplo, ganha importância e é apresentado como um gay assumido, apaixonado por Dean. A morte do pai de Paradise, pouco relevante no livro, aqui se torna importante para a construção do personagem. Até mesmo o livro "O Caminho de Swann" De Marcel Proust, ganhou destaque na versão cinematográfica.

Difícil saber como os fãs do livro vão reagir à atuação de Garrett Hedlund, o intérprete de Dean Moriarty, o mais importante e complexo personagem de "On the Road". O ator é sedutor como o Dean de Kerouac, mas lhe falta a expressão de uma loucura e energia sem fim tantas vezes descritas nas páginas do livro.

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