(Fernanda Calfat)
A moda praia cresceu, se tornou símbolo nacional, já migrou para a esfera do luxo e, mais recentemente, se imbuiu de uma tarefa difícil: transportar toda a riqueza e tradição de técnicas artesanais e matérias-primas cearenses para biquínis, maiôs, túnicas, blusas frente-única e hot pants da coleção verão 2016. Foi o que fez a marca cearense Água de Coco durante a 39ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW).
Como um colírio para os olhos, talvez cansados do déjà vu na passarela, a grife de Liana Tomaz mergulhou nas histórias e nas páginas da publicação “Mãos que fazem história”(Editora Verdes Mares), que deu nome à coleção verão 2016 da Água de Coco. Escrito pelas competentes jornalistas Cristina Pioner e Germana Cabral – pessoas pelas quais tenho bastante admiração –, o livro contempla o trabalho e a vivência de 150 artesãs e conquistou, em 2013, o terceiro lugar no Prêmio Jabuti, na categoria Reportagem. As autoras batem na tecla de que o artesanato deve ser conferido, sem favores, o status de obra de arte, expressão digna de ocupar mais acentuadamente a moda, a decoração ou o design de interiores.
Para apresentar ao público o eloquente trabalho artesanal, a Água de Coco transportou o universo de rendeiras, operárias do barro, bordadeiras e bonequeiras, repleto de Lourdes, Cíceras, Franciscas e Raimundas, como teve a habilidade de dar forma sofisticada e não menos atual às matérias-primas utilizadas por estas artistas.
Tecidos como o linho, a seda pura e a Lycra ® foram combinados ao trabalho manual de bordado rechilieu e de rendas como labirinto, renascença, bilro e filé. Enquanto tons terrosos, neutros e esverdeados compõem a cartela de inspiração nas paisagens de falésias (areia colorida extraída para o artesanato), são as estampas que reavivam os cactos. E o melhor: espinhos parecem saltar dos tecidos por força de desenhos e detalhes como nervuras.
A coleção é detalhista e, ao mesmo tempo, singela. No bloco “Palha com coco”, o bordado rechilieu, feito a mão no linho, aparece em tons esverdeados e se misturam às estampas de coqueiros. Já no grupo batizado de “Pacavira”, inspirado na planta de mesmo nome, roupas em tons terrosos e em renda labirinto preta estampada. E, para fechar com chave de ouro e sonhar com dias de sol e água fresca, o bloco de desenhos de velas do Mucuripe, cenário tradicional de Fortaleza, tem renda labirinto branca em formato de vela, homenageando pescadores, jangadas e os 30 anos da Água de Coco. Parabéns!