Maior flexibilização no comércio em BH escancara desafios para barrar a Covid

Renata Evangelista
rsouza@hojeemdia.com.br
09/06/2020 às 06:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:43
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Conciliar o aumento da população nas ruas com ações capazes de barrar a propagação da Covid-19 será difícil em Belo Horizonte. O primeiro dia da mais recente flexibilização do comércio escancarou o tamanho do desafio. Novamente imagens que vão contra o tão falado distanciamento social foram vistas com facilidade: carros por todos os lados, transporte público lotado, filas e muita gente olhando as vitrines e no interior das lojas. Pelos cálculos da prefeitura, até 824 mil trabalhadores do comércio e de serviços poderiam estar na ativa, ontem, após a segunda onda de retomada das atividades na capital. 

O vaivém de carros e pedestres, em meio à pandemia, deixou dúvidas se essa era uma segunda-feira do “velho” ou do “novo normal” na metrópole. A movimentação, sobretudo no hipercentro, preocupa especialistas. O aval da prefeitura para que outros segmentos da economia abram as portas pode oferecer risco não só à capital, mas a cidades da Grande BH devido à proximidade e deslocamentos dos trabalhadores.

“Acho que a prefeitura liberou demais. Por isso, muitos não estão respeitando as regras. Como os casos do novo coronavírus continuam crescendo, acredito que o ideal seria manter a abertura apenas dos serviços essenciais”, afirmou o cuidador de idosos Rodrigo Aparecido da Cruz, de 28 anos. Ele disse ter ficado impressionado com o movimento intenso na região. “Está parecendo dia normal”, lamentou.

O alerta do jovem era traduzido em cenas preocupantes. Contrariando as orientações dos órgãos de saúde, muitas pessoas paravam para ver produtos nas vitrines dos comércios. Pelas portas, o entra e sai da clientela durou horas. Dentro dos estabelecimentos não havia tumulto, mas, em alguns momentos, a lotação chamava a atenção.

Em uma loja de sapatos e bolsas, os funcionários não pararam de atender consumidores, chegando a todo momento. Amanda Rafaela Alves, de 24 anos, disse que o Centro estava bem cheio e o movimento, maior do que o esperado. “Temos que tentar compensar o tempo perdido. Nesses quase três meses, o prejuízo foi grande”, disse.

Mesma percepção de mais gente nas ruas teve quem trabalha no transporte público. “O movimento cresceu tanto e está tão intenso que daqui a pouco as pessoas vão passar em cima da gente”, afirmou o segurança da estação do Move na avenida Santos Dumont. O funcionário garante que a presença de passageiros no terminal aumentou de forma significativa ontem.

PREOCUPA

Atuando no Hospital Eduardo de Menezes, no Barreiro, que é referência em atendimento a pacientes com Covid em Minas, o infectologista Sidnei Rodrigues está preocupado. Para ele, será muito difícil garantir que o isolamento social funcione com o aumento das pessoas nas ruas. Outro alerta, acrescenta o médico, é com relação à Grande BH.

“Tem muita gente que trabalha no hipercentro e mora nos municípios vizinhos, Betim, Contagem, Santa Luzia, Ribeirão das Neves. Então, aumenta-se o tráfego de pessoas de um lado para outro, o que pode favorecer a transmissão do coronavírus”, afirma o especialista. Ele também chama a atenção para o número de leitos e profissionais de saúde que considera limitado.

A Prefeitura de BH informou que não ira falar sobre a situação. Na sexta-feira, nova reunião para traçar o andamento da flexibilização na cidade está prevista.

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