Mais de 50 mortos no Egito; Irmandade Muçulmana convoca "revolta"

Haitham El-Tabei - AFP
08/07/2013 às 15:35.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:52

CAIRO - Mais de 50 pessoas morreram nesta segunda-feira (8) durante uma manifestação organizada pelos seguidores do presidente destituído Mohamed Mursi, a Irmandade Muçulmana convocou uma "revolta" após este "massacre", que agrava o clima de extrema tensão no Egito.

O presidente interino, Adly Mansour, ordenou a abertura de uma investigação sobre esse evento que causou 51 mortos e 435 feridos, segundo os serviços de emergência.

Já o Exército egípcio advertiu que não permitirá que ninguém "ameace a segurança nacional" e pediu aos partidários do presidente deposto o fim das manifestações.

E o grande imã Ahmed Al-Tayeb de Al-Azhar, principal autoridade sunita do Egito, anunciou que se afasta até o fim da onda de violência.

Ele pediu para que todos "assumam as suas responsabilidades" para evitar que o país caia em "uma guerra civil".

Ao amanhecer, os partidários de Mursi rezavam diante do quartel general da Guarda Republicana, quando soldados e policiais abriram fogo, relatou a Irmandade em um comunicado.

Manifestantes declararam à AFP que foram atacados nesta madrugada com disparos de munição real e bombas de gás lacrimogêneo, em circunstâncias que permanecem obscuras. A Irmandade Muçulmana acusa o Exército pelo ataque.

Testemunhas contaram ainda que as forças de segurança dispararam para o ar e que os tiros diretos partiram de homens à paisana.

O Exército indicou por sua vez que "terroristas armados" tentaram atacar o quartel da Guarda Republicana. A ação terminou com um oficial morto e vários soldados feridos, seis deles em estado crítico, segundo fontes militares.

O bairro, sobrevoado por helicópteros, está bloqueado por barreiras da polícia.

Desde a destituição de Mohamed Mursi na quarta-feira passada pelo Exército, a tensão é crescente entre partidários e opositores do ex-presidente. Confrontos sangrentos provocaram dezenas de mortes.

O Partido da Justiça e da Liberdade (PJL), braço político da Irmandade Muçulmana, convocou em um comunicado uma "revolta do grande povo do Egito contra os que tentam roubar sua revolução com tanques".

O PJL também pede à "comunidade internacional, aos grupos internacionais e a todos os homens livres do mundo que atuem para impedir outros massacres (e) o surgimento de uma nova Síria no mundo árabe".

Poucas horas após esta declaração, as autoridades decidiram fechar a sede do PLJ no Cairo, depois da descoberta "de líquidos inflamáveis, facas e armas", anunciou à AFP um funcionário da segurança.

Denunciando este "massacre", o principal partido salafista, al-Nur, que apoiou o golpe militar contra Mursi, informou a saída das negociações para a formação de um novo governo de transição.

O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, que chegou a ser cotado para assumir o governo de transição, condenou "veementemente" os episódios de violência desta madrugada e exigiu uma investigação independente para apurar os fatos, em uma mensagem postada em seu Twitter.

Anunciada na véspera pela agência de notícias oficial Mena e por diferentes fontes políticas e militares, a escolha de ElBaradei enfrenta a oposição do Al Nur, que também expressou suas reservas quanto a escolha de um economista de centro-esquerda, Ziad Bahaa Eldin.

O próximo primeiro-ministro egípcio terá a difícil tarefa de recuperar uma economia à beira da falência e conduzir a reconciliação nacional em um país muito polarizado.

No exterior, o ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, condenou "em nome dos valores fundamentais da humanidade" um "massacre durante a oração da manhã".

Domingo à noite, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em todo o Egito, para mostrar que a queda de Mursi foi fruto da vontade popular, uma semana após manifestações em massa, sobre as quais o Exército se apoiou para destituir o presidente islamita.

No Cairo, a Praça Tahrir ficou lotada, após confrontos muito violentos na sexta-feira entre pró e anti-Mursi.

Milhares de partidários de Mursi também se reuniram em diferentes partes do Cairo para exigir o retorno do primeiro presidente eleito democraticamente do país e denunciar o "golpe de Estado militar".

Na sexta-feira, a violência já havia provocado 37 mortes durante a manifestação organizada por simpatizantes da Irmandade Muçulmana e na região instável do Sinai (nordeste).

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