(Pedro Gontijo)
Estilista dos mais respeitados do Brasil, o mineiro Victor Dzenk tem muito a comemorar. No último mês de setembro, a grife que leva seu nome completou 25 anos. No primeiro semestre, inaugurou a VD House, casa de coworking localizada em Lagoa Santa, na Grande BH, que também é palco de eventos diversos. Aos 49 anos, ele retoma processos criativos do início da carreira na nova coleção, programa reformulação na identidade visual da marca e busca pelo rejuvenescimento constante das criações. Confira os projetos do estilista em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, concedida durante a última edição do Minas Trend, no começo deste mês.
O line-up desse Minas Trend não contou com desfile da Victor Dzenk, que arrasou na passarela na edição de abril. Por que a ausência?
Às vezes precisamos nos afastar dos desfiles para focar nos negócios, e o momento pedia isso. Realizar as duas coisas ao mesmo tempo acaba prejudicando uma ou a outra. Como completamos os 25 anos no dia 3 de setembro, acho que a comemoração vale por um ano inteiro. Ainda não fechamos o formato, mas pensamos em um desfile ou até mesmo uma exposição comemorativa na edição do Minas Trend de abril de 2018.
A VD House, em Lagoa Santa, sua terra natal, foi inaugurada em maio deste ano e já é um empreendimento de sucesso. Como está sendo esse retorno às origens?
Está uma delícia! A VD House é perto da fábrica da Victor Dzenk. Eu saio de lá e aproveito para fazer uma caminhada na beira da lagoa e fico mais perto da minha mãe, que mora na cidade. Também estou mais próximo do Aeroporto de Confins, o que facilita muito já que fico saindo o tempo todo da cidade para fazer eventos fora. Além disso, a casa também tem novos desafios que estou gostando. Um deles é o convívio com outras empresas, já que é uma coworking house. Temos empresa de beleza, publicidade, paisagismo…
E têm os eventos também...
Sim, tem o departamento de eventos, e estou adorando promover encontros empresariais, de casamento. Depois de tanto tempo fazendo roupa, estes são desafios interessantes. E eu acho Lagoa Santa uma terra muito promissora. Hoje, são 91 condomínios instalados no entorno do município. É uma cidade que tem uma estatística de 30 mil habitantes durante a semana e, no fim de semana, vai para 200 mil, 300 mil habitantes. E esses números têm tudo para crescer porque, assim como eu, outras pessoas estão se mudando para lá. Junto a isso, voltar às origens é sempre bom e Lagoa Santa me remete à infância, à adolescência. Minha empresa está lá fundada há 25 anos no mesmo endereço. Depois de tanto ficar em BH, no Rio de Janeiro, viajar muito, estou de volta.Pedro Gontijo / N/A
Outlet em Lagoa Santa é um sucesso
E te ajuda muito na criação, estar em casa?
Sim, claro! É tudo mais leve, eu acordo com os passarinhos cantando. O ruído que eu tenho é dos pássaros, e não de poluição sonora. A proximidade é maravilhosa, tenho a fábrica ao lado e não enfrento mais o vai e vem. Tinha dias que, no trajeto de BH a Lagoa Santa, eram duas horas de trânsito. Agora venho a Belo Horizonte uma a duas vezes por semana para visitar o showroom e despachar algumas coisas, sempre tentando fugir do fluxo. Saio às 9h e retorno às 21h.
O estande dessa edição do Salão de Negócios do Minas Trend vem trazendo uma identidade visual diferente, sem o preto e o dourado, cores marcantes da grife. É uma forma de dar vida nova à Victor Dzenk?
Sim, na verdade estamos nos adaptando às exigências do mercado e deixando a marca mais limpa e moderna. Nosso ponto de partida foi tirar mesmo o preto com dourado da marca, até mesmo para começar a entrar com uma outra cara de apresentação. Menos barroca e um pouco mais contemporânea. As araras também deixaram de ser douradas para serem brancas.
E a coleção Inverno 2018, mostrada na semana de moda, segue essa vertente do contemporâneo?
É uma coleção que traz essa coisa do minimalismo e ao mesmo tempo do resgate da serigrafia (técnica de impressão em tecidos) em uma cor, processo muito utilizado quando comecei a carreira. Fazia muitas listras P&B, então a gente tem o listrado muito forte na coleção. Mas, claro, também trazemos a geometria colorida na estamparia digital. O próprio título da coleção, Vector, que faz uma alusão ao meu nome, é uma homenagem ao desenho vetorizado, geométrico. A coleção tem um casual bem forte, alfaiataria, e fizemos menos festa desta vez porque eu acredito que o momento da economia que vivemos não está tanto para festa. A roupa tem que falar mais com a realidade do momento, que é de recessão. Mesmo assim, temos que manter a esperança. Por isso, mantivemos uma linha de coquetel, de vestidos de festa, mas uma festa menos pretensiosa, menos bordada, às vezes mais para estampada. Investimos mesmo em uma roupa com um ticket médio mais real.
O plus size continua nessa coleção?
Temos a cápsula plus size sim. São roupas que vão até o número 50. Temos esse universo do all size e da cápsula jovem, com a colaboração da Lara e da Thaís (sobrinhas do estilista).Pedro Gontijo / N/A
Victor Dzenk agora mais perto da fábrica
Ainda há poucas marcas no mercado que apostam no plus size, não é?
É um mercado muito carente. As mulheres maiores gostam e merecem estar na moda, querem que as pessoas olhem para elas. A plus size também quer se sentir envolta com a roupa, delineada, com uma estampa bacana, bem pensada para ela. É importante olhar para esse mercado. Temos de estar atentos a todas as demandas que surgem.
A marca pensa neste momento de recessão para a criação e, nos negócios, quais os passos para segurar essa onda?
Estamos acreditando que vai passar e voltando um pouco nossos olhos para o mercado de pronta-entrega. Dessa forma, vendemos o que temos de sobra do atacado e também colocamos algumas novidades. Estamos com um projeto de abrir um outlet aqui em BH até o fim do ano. A loja será no Gutierrez, mas, como ainda passará por reformas, não tenho a data certa de abertura. O outlet que temos em Lagoa Santa já é um sucesso e queremos estar mais perto do público.
A Victor Dzenk está presente em cerca de 25 pontos de venda no exterior. O quanto representa a exportação para o faturamento da marca?
A exportação é um baby na empresa, mas um baby que está indo bem. Tem alguns países que já são fiéis na América do Sul, Europa e Oriente Médio. América do Sul, inclusive, tem melhorado. Temos vendido muito para o Panamá, Argentina e Chile. Até mesmo pelo Minas Trend têm vindo muitos clientes da vizinhança. Mas ainda é pequeno, corresponde a 5% do faturamento da empresa.
O Brasil por si só já é muito vasto, não é?
Sim, é um desafio. A gente distribui muito bem para o Norte, Nordeste, assim como para a região Centro-Oeste, o Sul do país também. O Rio de Janeiro é o segundo maior comprador depois de Minas Gerais. Eu, que viajo pelo país inteiro fazendo eventos em lojas de clientes, identifico um Brasil dentro de outro Brasil. Cada um com suas necessidades, restrições, pontos positivos e negativos. É um país muito cheio de vertentes. É um desafio fazer roupa no Brasil. Além do quadro econômico, temos a questão da dimensão do país.
Falando em desafios, quais são os próximos para a grife? E os projetos?
A marca está passando pelos 25 anos e temos que trazer um certo rejuvenescimento, por isso é legal ter as meninas mais novas (Lara e Thaís), beber nessa fonte da juventude, para a marca também não envelhecer, né? Porque é um processo até natural, se você deixar. Sua cliente também vai envelhecer. Você tem que sempre estar olhando um pouquinho para o lado da galera mais jovem, até mesmo para renovar a clientela. Mas, nada como a experiência. O sangue novo é legal, pois vem com a energia de querer fazer, de mudar tudo. Quem tem mais experiência, talvez não queira mudar tanta coisa, mas tem um background, uma bagagem. Eu falo sempre que um tem que conviver com o outro. Sobre os projetos, eles são a abertura do outlet em Belo Horizonte, a reinauguração da nossa loja on-line totalmente reformulada e de fácil acesso e a marca cada vez mais próxima do cliente.