Mariana acabou saindo barato para Vale e BHP Billiton

05/04/2016 às 22:02.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:48

O novo presidente da Samarco, Roberto de Carvalho, confirmou ontem o que eu já havia dito nesta coluna: caso corra tudo dentro do previsto, e a mineradora de Mariana volte a operar no quarto trimestre deste ano, seus sócios controladores, as gigantes Vale e BHP Billiton, não terão de gastar um tostão em reparações pelo acidente de novembro do ano passado causado pelo rompimento da barragem do Fundão, que provocou 19 mortes, arrasou o distrito histórico de Bento Rodrigues e matou o Rio Doce.

Ontem, dia em que o acidente completou cinco meses, Carvalho apresentou um balanço detalhado dos trabalhos de recuperação implementados até então (leia matéria aqui). O esforço merece ser reconhecido, mesmo que se diga que o realizado não seja mais do que obrigação e que nenhuma ação será capaz de reparar por completo os danos, o que é evidente, principalmente em face das mortes.

Mas não é isso que quero discutir. O que volto a levantar são os critérios para se estabelecer as sanções financeiras e os parâmetros do montante de recursos a ser investido nos trabalhos de recuperação.

Num acidente das dimensões do ocorrido em Mariana não existe como mensurar o valor das perdas. Uma vila histórica, um rio da importância do Doce e, principalmente, a vida das pessoas não têm equivalência em dinheiro. Então, restam apenas dois critérios: o tamanho do dispêndio para se reconstituir o que foi arrasado e perdido e a capacidade financeira dos responsáveis pelo desastre.

No caso de Mariana, o enorme e detalhado acordo firmado entre a Samarco e suas controladoras com os governos federal, de Minas e do Espírito Santo, costurado pela Advocacia-geral da União e assinado dia 2 do mês passado, só olhou para os custos de recuperação. Não mirou a capacidade financeira e não responsabilizou Vale e BHP Billiton.

Como já disse anteriormente, pelos termos do acordo as duas controladoras da Samarco não colocarão a mão no bolso para pagar danos. Não tirarão dinheiro do caixa. Apenas deixarão de ganhar enquanto a Samarco tiver que financiar os trabalhos de recuperação. Senão, vejamos:

Em 2014, um ano muito ruim de preços para a mineração, o lucro da Samarco foi de R$ 2,805 bilhões (último resultado divulgado). Isso é mais que o desembolso previsto para este ano em recuperação, de R$ 2 bilhões. Já em 2017 e 2018, os investimentos caem para R$ 1,2 bilhão ao ano. E o grosso dos desembolsos se dará nesse triênio, sendo decrescentes a partir de então até 2022, quando a empresa investirá um mínimo de R$ 240 milhões ao ano, até que os desembolsos se encerrem em 2030.

Ou seja, assim que a Samarco voltar a operar, terá capacidade plena de honrar seus compromissos com os trabalhos de recuperação dos danos causados pelo acidente e ainda gerar sobra de lucro para seus controladores. Nos próximos dias, assim que a Samarco publicar seu resultado de 2015, teremos uma noção mais clara de quanto a empresa possuía em caixa ao final do ano passado e se esse será suficiente para cumprir as obrigações previstas para este ano, enquanto está parada.

Mas ontem perguntei a Carvalho se a empresa precisaria recorrer aos seus controladores neste ano. Ele disse que se a empresa voltar a operar no quarto trimestre, não será necessário.

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