(Evelson de Freitas)
Com a morte de Eduardo Campos (PSB), a coligação “Unidos pelo Brasil” tem prazo de dez dias para apresentar um novo candidato, se decidir se manter na disputa ao Palácio do Planalto. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, nesse caso, “a substituição deverá ser feita por decisão da maioria absoluta dos órgãos executivos de direção dos partidos políticos coligados, podendo o substituto ser filiado a qualquer legenda dela integrante, desde que o partido político ao qual pertencia o substituído renuncie ao direito de preferência”.
Analistas ouvidos pelo Hoje em Dia consideram natural que Marina Silva assuma a cabeça da chapa, mas divergem dos impactos que isso poderia causar na trajetória dos outros dois principais concorrentes, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
Para o cientista político e professor da PUC-Minas, Gilberto José Barros Damasceno, Marina fortalece a ideia de terceira via e tem a capacidade de aglutinar os votos dos eleitores que estão insatisfeitos tanto com o PT quanto com o PSDB, a ponto de levar a disputa para o segundo turno. “Ela, mais que o Eduardo Campos, representa este eleitorado. O PT sempre temeu a criação da Rede (partido que Marina tentou registrar em 2013, sem sucesso) e a possibilidade de Marina ser candidata, mas o tiro saiu pela culatra. Agora, por um acidente, ela pode ser a candidata do PSB, um partido com muito mais estrutura”, diz.
Gilberto acredita ser “pouco provável” que Marina desista dessa empreitada. “Ela ainda poderá se beneficiar do discurso de que dará continuidade ao projeto de Eduardo Campos, agregando elementos emocionais que favorecem sua candidatura”. Para ele, a presença de Marina na disputa presidencial muda pouco a trajetória de Aécio
O cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV-SP, tem opinião divergente. Para ele, Aécio “perde mais” nesse cenário, porque Marina tem potencial para agregar os eleitores que tendiam a votar no tucano apenas no segundo turno, mas que, agora, podem votar na ex-senadora já no primeiro. O professor de marketing político da UFMG, Rodrigo Mendes, também acredita que Marina pode tirar votos do tucano, “por causa da força que ganhou nas eleições de 2010”. Neste caso, pode-se imaginar um segundo turno entre Dilma e Marina.
A ausência dela na disputa, uma outra possibilidade, já que PSB e Rede têm contradições que podem inviabilizar seu nome, também frustraria os planos de Aécio de chegar ao Palácio do Planalto, diz o cientista político Robson Sávio, da UFMG. Para ele, sem este terceiro elemento, aumentam as chances de Dilma ganhar em primeiro turno. Convite para voar no jatinho Às vésperas do acidente, após dez meses de convivência desde que decidiram unir forças na corrida presidencial, Eduardo Campos ofereceu carona para Marina Silva no jatinho que caiu nessa quarta-feira (13).
Marina estava com Campos quando ele foi entrevistado na noite de terça-feira pelo Jornal Nacional, da “Rede Globo”, mas optou por voar direto para Guarulhos (SP) por uma questão de logística.
A ex-senadora gravaria essa quarta programa televisivo para a propaganda eleitoral gratuita, mas cancelou o compromisso e foi para sua casa, na capital paulista.
“O Eduardo convidou a Marina para ir com ele, mas ela tinha um voo de carreira para Guarulhos. A Marina foi uma sorte (ter escapado do acidente)”, afirmou o deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ).
Coligação
A maioria dos presidentes e dirigentes dos partidos que compõe a coligação presidencial passou a defender o nome da vice na chapa, Marina Silva (PSB), para assumir o comando da campanha ao Palácio do Planalto.
O Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, conversou com representantes de quatro (PHS, PRP, PPL e PSL) dos seis partidos que compõe a coligação do PSB. Consternados, os dirigentes afirmaram que o momento ainda é comoção, mas que Marina, que foi escolhida por Eduardo Campos para ser a vice na chapa presidencial, é um "nome natural" para conduzir o grupo na disputa eleitoral. De acordo com a Lei Eleitoral, a coligação tem 10 dias para apresentar um novo registro de candidatura, prazo que começou a contar nesta quarta, 13.
"Deve acontecer uma reunião na próxima semana dos dirigentes nacionais dos partidos. A minha opinião é que a gente tem que escolher um nome e a lógica é que seja o da Marina. Cabe a ela dizer se aceita ou não. Caso ela queira, a gente tem interesse de apoiá-la e discutir um nome para a vice que saia de um dos cinco aliados", afirmou o presidente do PHS, Eduardo Machado.
"Com certeza agora temos que se reunir porque a coligação é quem decide quem vai assumir essa questão. Hoje o normal é a Marina ocupar o espaço majoritário", ressaltou presidente do PRP, Ovasco Resende.
O presidente do PSL, Luciano Bivar, disse também que o partido apoia o nome de Marina, mas fez uma ressalva de que ela precisaria assumir os compromissos feitos por Eduardo na pré-campanha. "Defendo a candidatura dela, mas a Marina tem que reafirmar os compromissos do Eduardo principalmente no que se refere a reforma tributária", disse.
"Creio que a Marina tem todas as condições de dar mais esse passo de ajudar os partidos que estão nessa coligação a encontrar a melhor solução para seguir a luta", afirmou o secretário nacional de organização do PPL, Miguel Manso. Vice indefinida
Apesar do apoio anunciado ao nome da candidata, os dirigentes ponderam que o novo cenário sem Eduardo Campos na disputa impõe uma rediscussão entre as seis legendas que compõem a aliança para definir o nome que deverá ocupar a vaga de vice. Alguns alegam que não necessariamente a chapa será "pura" com o PSB ocupando os dois principais postos.
"Eu diria que a formação inicial foi feita porque eram nomes que se destacavam de forma muito expressiva. Agora não necessariamente passa pelo PSB, pelo contrário, agora existe uma tendência natural que os demais partidos queiram participar dessa discussão", afirmou Eduardo Machado do PHS. "Acho que tem que ser reavaliado. Na realidade quem colocou a Marina dentro do grupo foi o Eduardo, não foi o PSB. Tudo tem que ser reavaliado a questão da presidência e da vice. Todos os partidos podem indicar para a vice, o que temos que ter é coerência e bom senso", defendeu Ovasco Resende do PRP . O presidente do PSL, Luciano Bivar, também seguiu na mesma linha. "Acho que tem que ser algo programático. Acho que deveria dividir com os outros partidos para manter a união da coligação. É importante isso".
Material recolhido
Segundo o presidente do PRP, Ovasco Resende, o material impresso com pedidos de votos para Eduardo Campos como presidente e Marina na vice deverão deixar de ser distribuídos nos próximos dias. "O que está na rua é impossível porque já foi distribuído. Mas os que estão na gráfica vão ser recolhidos e não vamos liberar", disse. De a acordo com ele, ainda não foi definido como ficará o programa de TV da coligação previsto para ir ao ar em cadeia nacional de rádio e TV na próxima terça-feira (19). "Pelo o que estou sabendo o Eduardo já tinha gravado dois ou três programas. Eles vão ser veiculados até para dar um tempos para dar uma respirada e ver como serão os próximos", afirmou.
(*) Com Agência Estado
Atualizada às 15h05