Foco no pedestre. Finalmente a BHTrans parece ter descoberto que essa é a maneira mais eficaz para conter o verdadeiro massacre que se verifica diariamente nas ruas da capital mineira. Oito atropelamentos por dia, um número inacreditável. Uma morte a cada dois dias por atropelamento, um absurdo! E, no entanto, são estatísticas oficiais divulgadas nesta semana, no lançamento da campanha “Pedestre. Eu respeito”.
Em agosto do ano passado, quando este jornal fez uma série de reportagens sobre esse grave problema, informou-se que 105 pessoas tinham morrido atropeladas em Belo Horizonte em 2010 e 76 em 2011. Essas estatísticas podem enganar, quando deixam de fora os atropelados que morrem depois em hospitais.
A campanha que se inicia agora, após muitos meses de planejamento – e que deve se prolongar por pelo menos um ano, período necessário para transferir aos motoristas a nova mentalidade de respeito ao pedestre –, integra-se ao projeto Vida no Trânsito, lançado pelo Ministério da Saúde em junho de 2010. O governo tem grande interesse em pôr fim a uma carnificina que se repete na maioria dos municípios brasileiros, pois é elevado o gasto do erário com atropelados. Belo Horizonte foi uma das cinco cidades escolhidas em 2010, por uma comissão interministerial, para participar do projeto. No ano anterior, o trânsito de Belo Horizonte havia matado 469 pessoas, e a causa principal foram os atropelamentos.
A BHTrans faz bem em começar a campanha pela tentativa de conscientização, antes que o Batalhão de Trânsito passe, dentro de 30 dias, a aplicar multas. Pois é preciso, antes de tudo, educar. Os cursos de treinamento de motoristas têm papel importante nisso, mas a responsabilidade vai muito além deles. Devia começar ainda nos cursos de alfabetização e prosseguir ao longo da formação dos estudantes, em toda a rede escolar.
No ano passado, vimos que o governo não dava a atenção devida – e recomendada pelo Código de Trânsito Brasileiro – à educação no trânsito. Em Minas, por exemplo, apenas 3% do arrecadado com multas de trânsito eram aplicados em ações educativas para motoristas e pedestres. Também não se investia o necessário em sinalização, engenharia de tráfego, policiamento e fiscalização.
Com a promessa da BHTrans de ter uma engenharia mais cuidadosa, com foco no pedestre, inclusive aumentando o número de semáforos direcionados a ele, é possível que a campanha venha a pôr um fim à matança.