Em depoimento na manhã desta sexta-feira, o neurocirurgião Adão Crespo disse que faltou ao plantão do dia 25 de dezembro no Hospital Salgado Filho, no Méier, zona norte do Rio de Janeiro, por "descontentamento" com a escala de trabalho.
O médico seria o responsável pelo atendimento à garota Adrielly dos Santos, de 10 anos, atingida na cabeça por uma bala perdida na madrugada de Natal. Ela esperou cerca de sete horas para passar pela cirurgia de retirada do projétil. Na quinta-feira (27), Adrielly foi transferida para o Hospital Souza Aguiar, mas segue em coma induzido e seu estado é considerado grave.
Crespo confirmou que faltava aos plantões há mais de um mês por discordar das condições de trabalho no Hospital. O médico alegou que uma resolução do Conselho Regional de Medicina determina que, ao menos dois médicos neurocirurgiões, estejam presentes nos plantões. Crespo seria o único na especialidade a trabalhar na noite do dia 25 de dezembro.
Crespo afirmou que a determinação do conselho não era cumprida no Hospital Salgado Filho, onde a garota recebeu os primeiros atendimentos.
Em depoimento ao delegado Luiz Archimedes, responsável pelo caso, o médico afirmou ter comunicado sua decisão ao chefe do setor de neurocirurgia, identificado como José Renato Paixão. Ele será ouvido no próximo dia 4, junto com outros médicos do hospital. A Polícia Civil também estuda pedir a quebra do sigilo telefônico do médico plantonista para confirmar a versão apresentada. O livro de registro de frequência dos médicos também será solicitado pelo delegado.
No início da manhã, o advogado de Crespo, Alex de Souza, afirmou que seu cliente não compareceria para prestar depoimento, pois estaria de licença médica em função de uma crise de hipertensão. "Ele estava constrangido com a situação, mas aparentemente não estava com mal-estar", afirmou o delegado Archimedes.
O neurocirurgião plantonista deixou a delegacia sem falar com a imprensa. Ele poderá ser indiciado por omissão de socorro.
http://www.estadao.com.br