A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou nesta quarta-feira 914 que comprovou a ocorrência de 24 casos de assédio ou abuso sexual em 2017 dentro de sua organização, num momento em que acusações de estupros visando empregados da Oxfam e a ONU abalam a reputação do setor humanitário.
A ONG criada na França, mas que tem 40.000 funcionários permanentes em todo o mundo, indicou em um comunicado que recebeu 146 denúncias ou alertas.
Desses, "40 casos foram identificados como casos de abuso ou assédio", sexual ou não, ao final de investigações internas, e, entre esses 40 casos, 24 foram casos de assédio ou abuso sexual", segundo a ONG.
Destes 24 casos, 19 pessoas foram demitidas, acrescentou a organização. "Em outros casos, os funcionários foram sancionados por medidas disciplinares ou suspensões", aponta o comunicado.
De acordo com MSF, no entanto, os 24 casos relatados não incluem "casos diretamente geridos por equipes no campo e não relatados à sede" operacional em Paris.
O número real de casos de assédio ou abuso sexual pode, portanto, ser potencialmente maior.
"Embora os relatos de abuso estejam crescendo constantemente, MSF está ciente de que os abusos cometidos na instituição são subestimados", reconhece a associação.
MSF traz essa revelação quando o setor humanitário é abalado por revelações sobre a ONG britânica Oxfam.
Vários funcionários da poderosa confederação de cerca de vinte ONGs presentes em mais de 90 países são acusados de estupros durante missões humanitárias no Sudão do Sul, abusos sexuais na Libéria e, entre outras coisas, de recorrerem a prostitutas no Haiti, bem como no Chade.
Segundo uma investigação interna da organização sobre 120 pessoas em três países entre 2013 e 2014, ou seja, entre 11 e 14% do pessoal atuante foram vítimas ou testemunhas de agressões sexuais. No Sudão do Sul, quatro sofreram estupros ou tentativas de estupro.
A diretora adjunta da Oxfam, Penny Lawrence, renunciou na segunda-feira (12) devido ao escândalo no Haiti que data de 2011. O caso está ligado a eventos ocorridos durante uma missão humanitária por ocasião do terremoto que deixou mais de 200 mil mortos em 2010.
A Médicos Sem Fronteiras é uma associação médica humanitária internacional, criada em 1971 em Paris por médicos e jornalistas. Intervêm em áreas afetadas por conflitos, epidemias ou desastres naturais.
A associação, que garante sua independência obtendo recursos quase que exclusivamente de doações privadas, está presente em 71 países, incluindo Iraque, Iêmen, República Democrática do Congo e Sudão do Sul.
A associação recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1999.