Meirelles trabalha para quebrar o país

30/06/2016 às 08:16.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:06

Na coluna de ontem, abordei muito rapidamente o crescimento da dívida pública, já que o foco estava no déficit recorde das contas do governo em maio. Mas a dívida não é um assunto menos importante. Vamos, então, aos números que dão a dimensão da tragédia.

Conforme o Banco Central, de abril para maio foram agregados novos R$ 74 bilhões à dívida bruta do setor público brasileiro, que leva em conta a União, os estados, os municípios e as estatais (exceto Petrobras, Eletrobras e bancos, não me perguntem por que). O principal avançou de R$ 4,039 trilhões para R$ 4,113 trilhões, um crescimento de quase dois por cento em apenas 30 dias. Já a correspondência da dívida com o PIB subiu 1,1 ponto percentual, para 68,6%.

Nessa toada, em mais 12 meses a dívida atingirá 81,8% do PIB. Em dois anos, subirá a 95%. Ou seja, estamos correndo contra o relógio. Ou mudamos o rumo da economia ou o Brasil entrará em falência. E acredito que não seja preciso explicar as consequências dramáticas de um default (basta olhar para a Grécia).

Qual o motivo desse crescimento espantoso da dívida pública? O encolhimento da economia, a queda da arrecadação e os juros. Como mostrei na coluna de ontem, a receita líquida do governo federal caiu 5% de janeiro a maio comparado com o mesmo período do ano passado, para R$ 456,233 bilhões. Somente em maio, a queda foi de 9,9%.

Sem dinheiro e fazendo déficits primários sucessivos e crescentes (a meta para o ano é de R$ 170 bilhões negativos), não resta outra saída ao governo senão ir ao mercado buscar dinheiro para cobrir o rombo. Somente em maio, o déficit do chamado governo central (o somatório de todos os poderes da União) foi de R$ 15,493 bilhões.

E a esta situação gravíssima se somam os juros que recaem sobre a dívida, os mais altos do mundo, que em maio foram de, em média, 16,67% ao ano. Joguem esse percentual sobre o total da dívida brasileira e chegaremos a um compromisso de pagamento de juros de incríveis R$ 274,3 bilhões ao ano, ou R$ 57,1 bilhões ao mês (em valores reais, ou seja, já descontada a atual inflação de 10%).

Uma conjuntura, portanto, dificílima. Mas será que irreversível? Para respondermos, precisamos ter claro alguns princípios. O primeiro é que a dívida nunca será paga. Governos não pagam suas dívidas, rolam. Ao vencimento de um papel, lança-se outro, e o efeito em caixa é nulo. O problema é o crescimento descontrolado da dívida e a falta de perspectiva de crescimento, o que assusta investidores e pode, no extremo, inviabilizar o lançamento de novos títulos. É quando um país quebra.

Outro ponto importante é que aumentar o estoque da dívida pode ser muito saudável, desde que o dinheiro seja utilizado para dinamizar a economia, ou seja, para acelerar o crescimento ou reverter um ciclo recessivo. Se assim for feito, os compromissos futuros com juros e amortizações, mesmo que crescentes, acabaram sendo compensados pelo aumento da arrecadação.

Nosso problema atual é o seguinte: a dívida está explodindo, a arrecadação caindo e o governo paralisado. E chegará o ponto em que não será possível nem mesmo fazer mais dívida para sustentar um programa de investimentos que tire a economia da letargia.

Sim, estou absolutamente pessimista enquanto durar o reinado da dupla Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn na economia. Quem chamou a nova equipe econômica de dream team é iludido ou fanfarrão.

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