Menos dinheiro gasto para ocupar vaga na Assembleia

Patrícia Scofield - Hoje em Dia
17/11/2014 às 07:33.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:02
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

O preço médio do voto para eleger um deputado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) este ano foi de R$ 9, valor 68% menor que a expectativa de gasto feita pelos partidos, de R$ 28 por eleitor. De acordo com os dados disponibilizados pela Justiça Eleitoral e pelo Legislativo estadual, foram necessários, em média, R$ 613 mil e 68 mil votos para se eleger um parlamentar.

Os dados foram calculados pelo Hoje em Dia com base na prestação de contas de 74 dos 77 deputados estaduais que informaram os gastos ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) e no número de votos obtidos por cada um dos eleitos este ano.

Não foram disponibilizados no sistema de prestação de contas da Justiça Eleitoral as informações das campanhas de João Magalhães (PMDB), Sávio Souza Cruz (PMDB) e do “Missionário” Márcio Santiago (PTB).

Na média, o dinheiro investido nas campanhas se equipara ao que os deputados mineiros receberão, apenas em salário líquido, nos quatro anos de mandato que se seguem: R$ 715,4 mil. Foram considerados os vencimentos de R$ 13.758,48 e quatro vezes o pagamento do 13º salário.

Em 2010, os 1.365 candidatos à ALMG que prestaram contas revelaram despesa total de R$ 336,6 milhões na campanha. Isso dá um gasto médio de R$ 21,83.

De acordo com o cientista político Gilberto Barros, professor da PUC Minas, apesar da queda do custo médio do voto, a democracia no Brasil ainda é “cara” e favorece os políticos que têm influência junto ao empresariado financiador de campanha.

Ele descarta a ideia de que a redução do valor investido tenha relação com a fiscalização da corrupção no país. “É uma questão de mercado. Quanto maior a oferta de gráficas, mídias, marqueteiros nesse mercado eleitoral que acabou sendo criado, mais diminui o custo. Os candidatos entram no pleito mais motivados em conseguir o quociente eleitoral do que na possibilidade de vitória. Essa multidão de candidatos entra com menor recurso de campanha e quem tem grandes apoiadores é puxador de voto ou conta com setores empresariais, capta mais dinheiro, lícita ou ilicitamente”, afirma o especialista.

Entre os deputados, o que mais investiu foi Fábio Cherem (PSD), com R$ 3,4 milhões. Ele foi reeleito com 65.778 votos no Estado e contou com a doação de pessoas físicas, da Construtora Cherem Ltda., da direção nacional do PP, por meio da campanha do deputado Dimas Fabiano, da Gerdau Aços Especiais S.A., por meio da campanha do deputado federal Reginaldo Lopes (PP).

Custo para governo de Minas é o sexto maior

Na outra ponta, a campanha mais modesta, com R$ 204 mil, foi a do novato Doutor Jean Freire (PT), vereador de Itaobim, no Vale do Jequitinhonha, há três mandatos.

Os mais votados em Minas, deputados Paulo Guedes (PT) e Mário Henrique Caixa (PCdoB), gastaram respectivamente R$ 2, 4milhões e R$ 407 mil. O petista teve 164.831 votos e “Caixa” conquistou 130.593.

Procurados pela reportagem, o único que retornou aos contatos foi Paulo Guedes. Para ele, a campanha foi “barata” e pesou mais o trabalho comunitário feito pelos candidatos.

“Tem que ter trabalho prestado à região do candidato e o conhecimento do tema. Na minha campanha, pesou a parceria para doar para deputados aliados”, disse.

CAMPANHAS EM Minas

Dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o custo das campanhas nas eleições para governador colocam Minas como o sexto Estado com as maiores despesas, com R$ 133,83 milhões. Fica atrás de São Paulo (R$ 324 milhões), Rio de Janeiro (R$ 185,91 milhões), Alagoas (R$ 143,1 milhões), Distrito Federal (R$ 143 milhões) e Ceará (R$ 140,8 milhões).

Em média, o valor gasto por eleitor mineiro na disputa pelo Palácio Tiradentes foi de R$ 8,77.evando-se em conta a média, Roraima é o Estado onde o voto foi mais caro: R$ 90,18.

Por região, o voto no Sudeste teve um custo médio de R$ 10,86, o menor do país. Na região Norte, o custo é de R$ 31,18; no Nordeste, R$ 19,87; no Sul, R$ 11,67. A região mais cara foi a Centro-Oeste, com gasto de R$ 45,78.

“A eleição no Brasil ainda coloca o poder econômico acima do poder social. Ainda é muito caro chegar ao poder. Daqui a dois anos, teremos a corrida para prefeito e vereador, e as campanhas e as doações começam a ser pensadas com muita antecedência”, afirma o cientista político Gilberto Barros.

Cofres mais cheios rendem mais eleitores

Para o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Abramo, o “grande eleitor” no Brasil é o dinheiro. Considerando-se o custo do voto nas eleições de 2010 e 2012, em estudo feito no início deste ano pela instituição, uma das conclusões é que, com os cofres cheios, os partidos, em geral, conquistam mais eleitores. Em uma escala de 0 a 1, a correlação entre os gastos altos de campanha e o sucesso na eleição é de 0,9.

“A falta de lógica dos financiamentos é fruto da falta de limites às doações, que gera verdadeira corrida do ouro em algumas disputas eleitorais. A limitação obrigaria os financiadores a discriminar melhor quem eles financiam, e isso causaria uma regularização desse cenário de irracionalidade”, diz.

Abramo acredita que a proposta de teto para as doações reduziria o comportamento de empresários que, por segurança, financiam simultaneamente candidatos rivais.

A pesquisa da Transparência Brasil mostra ainda que empresas foram a fonte de 59,1% dos recursos aplicados nas campanhas eleitorais de 2010, o que equivale a R$ 1,2 bilhão. Ao mesmo tempo, as doações de pessoas físicas se revelaram uma ferramenta muito mais comum àqueles de alta renda do que ao cidadão assalariado. Ao todo, 92% dos recursos dessa fonte vieram de doações superiores a R$ 1 mil.

“A respeito da doação de empresas, é absurdo afirmar-se que a influência corruptora de empresas se manifeste primordialmente pelo financiamento eleitoral. Empresas procuram direcionar decisões políticas e administrativas todo o tempo. Influências corruptoras exercidas por empresas independem de elas terem financiados ou não”, afirma Abramo.

O levantamento indicou que, em 2010, 303 candidatos deram à sua campanha um valor superior a 50% do patrimônio declarado. Em 2012, 4.443 candidatos entregaram a seu próprio comitê eleitoral mais da metade do patrimônio declarado. Hoje, não há limite para as autodoações.

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