Mensagens falsas se multiplicam, mas vacina contra febre amarela é eficaz

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
27/02/2018 às 20:55.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:36

A confirmação de que pelo menos 11 pessoas vacinadas contraíram febre amarela em Minas levantou a discussão sobre a possível perda de eficácia da imunização. Mas, ao contrário dos inúmeros boatos que têm circulado nas redes sociais e em aplicativos como o WhatsApp, órgãos oficiais de saúde reafirmam que essa continua sendo a principal forma de proteção contra a doença.

Uma série de informações falsas sugerindo que a epidemia está fora de controle tem ganhado repercussão. Dentre o conteúdo compartilhado há argumentos de que as mutações sofridas pelo vírus o tornaram mais forte e, com isso, poderiam levar à morte “em menos de 12 horas”. 

Em um dos áudios em circulação, uma suposta médica garante que, de 15 pacientes internados em estado grave em um hospital de BH, seis, vacinados, teriam morrido nos últimos dias. Na mesma mensagem, ela orienta as pessoas a usar repelente até mesmo “no cabelo”.

O subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde do Estado, Rodrigo Said, afirma que os rumores sem fundamentação científica atrapalham o trabalho de combate à febre amarela, mas não se sustentam diante dos dados oficiais divulgados. 

Said explica que o número de pessoas que tomaram a vacina e foram infectadas é “ínfimo” diante de um universo de 15 milhões de mineiros imunizados. “Há aqueles que, por fatores individuais, não vão criar os anticorpos necessários. Mas eles são a exceção à regra”.

Mesmo com o aumento da cobertura vacinal – que já está em 89% em Minas –, novos casos de pacientes protegidos e infectados não são descartados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). “A tendência agora é ter mais pessoas imunizadas do que o contrário. Como temos grande circulação do vetor, podem surgir novas exceções que serão investigadas particularmente”, afirma Said.

Mutação

A eficácia da vacina contra febre amarela é de 95% a 98%, percentual considerado alto na prevenção da transmissão do vírus, mesmo após a constatação de mutações em estudos realizados Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2017. 

Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva explica que essas transformações ocorreram em partes do vírus que não são usadas para fazer as doses. “As proteínas virais utilizadas continuam imutáveis. Com isso, a vacina continua extremamente efetiva”.

Mortes já chegam a 96 em Minas; Fiocruz descarta riscos após mudança genética do vírus

Pelo menos 264 casos de febre amarela já foram confirmados em Minas no período de monitoramento que vai de julho de 2017 a junho de 2018. Até o momento, 96 pessoas morreram. Além disso, 589 pacientes com suspeita da doença permanecem sob investigação. A letalidade da enfermidade está em 36,4% no Estado.

Mesmo com o crescimento das notificações, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelos principais estudos sobre a epidemia, esclarece que as mudanças genéticas identificadas no vírus não afetam a população. O órgão reforça que os boatos prestam um “desserviço” ao Brasil. 

“Não há qualquer impacto destas mutações para a eficácia da vacina”, atesta a fundação. O órgão esclarece, ainda, que as doses disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) protegem contra as diferentes formas de apresentação do microorganismo. 

“Além disso, as alterações detectadas no estudo não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para o funcionamento da vacina”, destaca a nota. 

Dose única

Recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), seguida pelo Ministério da Saúde (MS), é a de que apenas uma dose da vacina padrão é suficiente. Assim, mesmo quem foi imunizado há mais de dez anos também está protegido.

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