Mesmo com menor fluxo de carros, Pedro I é a avenida com mais atropelamentos em BH

Simon Nascimento
scruz@hojeemdia.com.br
29/09/2018 às 14:04.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:43
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Das cinco avenidas campeãs de atropelamentos em Belo Horizonte, a que tem a menor circulação de veículos é a que mais registra acidentes. Com apenas 3,5 quilômetros de extensão, a Pedro I teve 624 vítimas de 2015 até agosto deste ano, conforme dados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Por dia, cerca de 45 mil automóveis passam pela via, número três vezes menor se comparado ao da Antônio Carlos.

Importante corredor de tráfego da capital, a Pedro I dá acesso a três regiões: Venda Nova, Norte e Pampulha. A maior concentração de casas, escolas e unidades de saúde no entorno ajuda a justificar as ocorrências, dizem especialistas. Outro problema seria a inexistência de passarelas. No entanto, os abusos são cometidos tanto por motoristas quanto por pedestres. 

“Lá, existe um intenso fluxo do transporte público. Quem está a pé se desloca entre as pistas para chegar às estações e paradas de ônibus”, afirma o consultor de transporte e trânsito Silvestre de Andrade.

A aposentada Juraci Pinto de Assis, de 70 anos, foi uma das vítimas. Ao atravessar o corredor viário fora da faixa destinada a ela, foi surpreendida por um motociclista que teria avançado o semáforo. Ela conta que foram necessárias 80 sessões de fisioterapia para se recuperar de uma fratura no braço direito.

No entanto, Juraci ainda ignora o espaço reservado para pedestres. A mulher foi flagrada em uma travessia arriscada, em meio aos carros, para acessar uma estação do Move. “Tenho medo de fazer isso de novo, mas às vezes a gente está com pressa e é mais fácil. Olho bem antes de passar”.
A implantação de uma passarela não seria suficiente para resolver o problema, acrescenta Silvestre. “Nem isso nem campanha educativa. É necessário levar a educação de trânsito às escolas. Quem anda a pé geralmente não é motorista, não participou de aulas de legislação nem conhece a sinalização”.

“A Pedro I tem muitos radares. Atuamos com tecnologia, presença policial e apoio da população. O cidadão pode denunciar qualquer motorista que fira a lei de trânsito” (Marco Antônio Said, tenente do Batalhão de Trânsito da PM)

Números

Nos últimos quatro anos, mais de 11 mil pessoas foram atropeladas na metrópole. Além da Pedro I, integram a lista as avenidas Antônio Carlos, Pedro II, Nossa Senhora do Carmo e Cristiano Machado. As ocorrências nos cinco corredores representam quase 20% do total registrado na cidade.

O tenente Marco Antônio Said, do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, afirma que cerca de 90% dos acidentes são causados por falha humana. “O pedestre tem que atravessar da maneira correta, assim como o motorista precisa respeitar as leis. É urgente conscientizar-se que o trânsito é uma gentileza de todos”.Maurício VieiraPedestres aproveitam a falta de grade para passar de um lado a outro da via

Riscos potencializados

A falta de manutenção em gradis nas principais avenidas da metrópole potencializa o risco de atropelamentos. Implantado para impedir a passagem das pessoas em meio ao vaivém dos carros, o equipamento de segurança está destruído em vários trechos, devido a ataques de vândalos ou acidentes de trânsito.

Nas avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado, a equipe de reportagem constatou divisórias empenadas, quebradas e arrancadas. A situação favorece o desrespeito cometido por quem está a pé.

Em 2016, o Hoje em Dia mostrou que as grades de proteção não recebiam manutenção desde 2015. Atualmente, conforme a BHTrans, somente as estruturas instaladas nas proximidades de escolas irão passar por intervenções, previstas para este ano.

Conforme o órgão, a licitação para contratar uma empresa que fará o serviço em todas as divisórias da capital está prevista para 2019.
“As restrições orçamentárias de 2018 não permitiram o lançamento da concorrência pública”, informou a autarquia.Maurício VieiraPedestres aproveitam a falta de grade para passar de um lado a outro da via

A avenida Nossa Senhora do Carmo tem 2,1 quilômetros de extensão, seguida pela Pedro I (3,5 km), Pedro II (5,4 km), Antônio Carlos (7,7 km) e Cristiano Machado (11,7 km)

Ações

Na tentativa de conscientizar a população sobre os riscos dos atropelamentos, a BHTrans garante realizar campanhas nos ônibus e em terminais de embarque e desembarque de passageiros. Já em relação à instalação de passarelas, disse que a necessidade é avaliada tecnicamente e, quando aprovada, requer recursos financeiros dos governos estadual e federal.

“O cidadão brasileiro já não tem boa educação para o trânsito, e a pressão do congestionamento e dos horários marcados agrava o contexto” (João Luís Pimentel, vice-presidente da Associação Mineira de Medicina e Tráfego (Ametra)

Consequências

As consequências para uma pessoa atropelada tendem a piorar de acordo com a velocidade do veículo. Segundo o gerente de Operações do Samu de Belo Horizonte, Alex Sander Sena, as lesões já são graves quando o carro está a 30 quilômetros por hora (km/h). “Acima de 60 km/h há politraumatismos. Nesses casos, o risco de morte é maior”.

O tempo para o atendimento também influencia o estado de saúde da vítima. Na capital, conforme Alex Sander, o deslocamento dos socorristas tem sido prejudicado. “Há motoristas que não têm a cultura da educação e o entendimento da prioridade de emergência. Essa situação é observada em muitos atendimentos. Ao invés de abrir passagem para a ambulância, os condutores tentam competir o espaço com ela”.

A Secretaria de Estado e Segurança Pública (Sesp) foi procurada para informar o número de mortes por atropelamento em Minas, mas não respondeu à demanda. Em 2016, o Hoje em Dia mostrou que 46 óbitos em decorrência desse tipo de acidente foram registrados no Estado.Editoria de Arte

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