Trata-se de brincadeira com a boa fé do brasileiro ou constrangimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), ou ainda, ante os pedidos de prisão do procurador-geral, Rodrigo Janot, a constatação de que República está falida e em “metástase”, especialmente a linha sucessória no país.
A presidente Dilma Rousseff (PT) foi afastada do cargo por 180 dias e seu impeachment está sendo julgado, embora as acusações contra ela – pedaladas fiscais e decretos orçamentários – não possam ser caracterizadas como crime de responsabilidade.
Ao contrário dela, seu vice-presidente, o presidente substituto Michel Temer, foi condenado no dia 3 de maio passado, pela Justiça Eleitoral paulista, por ter doado dinheiro acima do limite legal em 2014. Com a decisão, vira ficha-suja e poderá ficar inelegível (ainda está sub judice).
Para evitar que seu eventual vice, Eduardo Cunha (PMDB), assumisse a Presidência da República em algum momento, ele foi afastado da Presidência da Câmara dos Deputados pelo STF. Ainda está sendo julgado pelo Conselho de Ética que poderá lhe cassar o mandato de deputado federal por manter contas secretas no exterior, além de ser réu, por corrupção, no Supremo.
Seguindo a linha sucessória, o presidente do Senado, Renan Calheiros, alvo de vários inquéritos no STF, teve, junto com outros três, o pedido de prisão formalizado, ontem, pelo procurador-geral. Os outros dois são o senador Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney.
Todos da cúpula do PMDB. Temer ainda montou ministério provisório com, pelo menos, 15 dos 24 integrantes citados ou investigados criminalmente. Em apenas 27 dias de governo, já demitiu dois e tem outros três com a cabeça a prêmio.
No campo oposicionista, o presidente nacional do PSDB e candidato presidencial derrotado, senador Aécio Neves, responde a dois inquéritos no STF sobre denúncias relacionadas a escândalos.
Um deles, o mensalão tucano, levou à condenação a mais de 20 anos, em primeira instância, o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB); o outro se refere a denúncias de desvios na estatal Furnas, semelhante ao esquema na Petrobras.
Nessa linha de comprometimento geral das principais lideranças, cresce a pressão por novas eleições. Na hipótese do constrangimento ao STF, o vazamento do pedido de prisão soou como meio de pressão para que as decisões judiciais sejam tomadas imediatamente.
Com a alma lavada
O líder do Bloco da Maioria na Assembleia Legislativa, Rogério Correia (PT), lavou a alma ontem no plenário. Depois de praticar por anos a fio seu esporte predileto, o ataque a tucanos, Correia subiu à tribuna para comemorar os feitos.
Apesar da torcida organizada contra nas galerias, o petista disse que o PSDB não teria moral para acusar o PT: “Tanto é que o ex-presidente nacional do PSDB e ex-governador Eduardo Azeredo está condenado a 20 anos; o ex-presidente estadual Nárcio Rodrigues está preso na Nelson Hungria (penitenciária em Contagem) e o presidente nacional, Aécio Neves, responde a dois inquéritos no STF”.
Foi hostilizado pelos manifestantes das galerias, a quem chamou de fascistas e golpistas e ainda pediu o encerramento da sessão, para não dar chance aos rivais de rebatê-lo em plenário, que viram na manobra meio de fugir do confronto.