Microcrédito: agente de inclusão e inserção social no campo e na cidade

Jornal O Norte
18/02/2008 às 17:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:25

Valéria Esteves


Repórter

Crédito rural atende até atividades artísticas no Norte de Minas. Parece inacreditável, mas é bem verdade que o prestador de serviço e produtor rural, Adilson Silva Santos de Coração de Jesus comprou um teclado com o crédito obtido na linha Agroamigo do Banco do Nordeste.

Ele tomou emprestado cerca de R$ 2.600 e em contrapartida investiu mais R$ 1.600 para ter o instrumento de trabalho. E quem disse que música não é um negócio bom aqui por essas redondezas sertanejas!- Por mês, Adilson e seus três filhos que formaram uma banda, realizam uma média de quatro shows, que lhes rendem em torno de R$ 600. Cada um dos filhos assume um instrumento musical, percussão, guitarra, teclado, contrabaixo. Enfim, um negócio em família, no entanto, coletivo ao mesmo tempo; assim como se assemelha a filosofia do microcrédito e especificamente às linhas Crediamigo e Agroamigo, ambos voltados para atender os produtores rurais e micro e pequenos empresários que vivem na informalidade.

E por falar em informalidade tem sido grande o número de casos de sucesso de pessoas que começaram a trabalhar como empregado em estabelecimentos e hoje têm seu próprio negócio. A história de Lourival Aparecido Cabral, lá de Capelinha, Vale do Jequitinhonha vale a pena ser contada, assim como a de seu Antônio Marques Lobato de Grota do Sal, distrito de Montalvânia. A peculiaridade das histórias é que ambas contam como planejar as atitudes e a ações podem culminar em melhoria de vida.

Lourival começou como Office boy em uma papelaria, conforme contou a coordenadora do Crediamigo em Capelinha, Elizete Araújo chegou a ocupar o cargo de gerente desse mesmo lugar. Contudo, queria mais. Pretendia ter sua própria papelaria e foi o aconteceu. Hoje é líder de vendas no seguimento numa loja no centro de Capelinha. Seu negócio começou pequeno no ano de 2003. No seguinte viu a necessidade de conseguir capital para alavancar suas vendas com a compra de mercadorias para atender a demanda da clientela. Diante disso tomou seu primeiro empréstimo no Crediamigo no valor de R$ 1 mil e hoje já pegou cerca de R$ 8 mil mais investimento fixo que chega a R$ 2 mil.

INVESTIMENTO NA ZONA RURAL

Seu Antônio é comerciante, produtor rural e agora inventou até de ser taxista em Grota do Sal. É uma história de crescimento gradativo, onde a demanda por sobrevivência, nesse caso, relativa à agricultura familiar, uma mercearia e mesmo o taxi apareceram como necessidade da comunidade que tem cerca de 30 famílias.

- O Táxi é o negócio mais novo que tenho porque os aposentados e alguns doentes precisavam ir pra cidade consultar e tratar de outros assuntos. Mas comprei o carro com a venda de 12 novilhas que comprei com o financiamento do Agroamigo. Primeiro, peguei R$ 1.500 investi na mercearia; sendo que do lucro da produção de milho, feijão e outros também aproveitei para colocar nesse negócio meu. Pois quitei esse, e tomei mais R$ 1 mil e juntei com um lucro mensal de R$ 600 que tiro da mercearia para comprar as novilhas que, depois de 1 ano e 6 meses vendi ao preço de R$ 5 mil. E agora sou dono de um carro que virou táxi, e vou tomar mais empréstimo para ajudar meus negócios crescerem. Lá em Grota do Sal todo mundo tem hoje uma vaquinha comprada com o dinheiro do Agroamigo, conta.

A renda se seu Antônio aumentou cerca de 20% nos últimos anos. Só para ressaltar, o primeiro empréstimo dele foi da linha Pronaf B ainda em 2002.

GERAÇÃO DE EMPREGO

Seja no campo ou na cidade sempre há quem reinvente sua história. Para o superintendente do Banco do Nordeste para os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, José Mendes Batista, o microcrédito promove inclusão e inserção social àqueles que estão à margem do processo produtivo e econômico. Apesar de o volume de recursos disponibilizados para o seguimento de crédito orientado, como é o caso do Crediamigo e Agroamigo, ser pequeno, a geração de emprego que ele oferece é grande e os resultados aparecem dependendo da força de vontade de quem empreende, diz o superintendente.

Mendes afirma que há nesse processo um efeito multiplicador da moeda onde se empresta, recebe e se reempresta numa velocidade significativa, já que o valor dos empréstimos não são tão altos. Segundo ele, o BNB fechou cerca de 824 mil operações com empréstimos que circundam a média de R$ 741 em toda sua área de atuação. O Banco tem hoje 13,200 clientes que atuam na informalidade e já investiu cerca de R$ 10 milhões nos últimos anos, e mais de R$ 160 milhões em dez anos de investimento nas micro e pequenas empresas, além de atender aos negócios rurais. O índice de inadimplência no Crediamigo é de 1% e do Agroamigo de 1,4%.

- A intenção do governo federal é migrar o Pronaf B- Programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar para o Agroamigo que é uma versão rural do Crediamigo. Nessas linhas há assessores de crédito que ensinam a fazer desde o fluxo de caixa a noções de venda. Por isso temos 80% de clientes fidelizados no segmento de microcrédito.

Vale lembrar, conforme explicou o superintendente, que o Banco financia também investimentos sociais como até mesmo a construção de um banheiro, reforma de telhados, tudo que promova a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Isso porque a meta é atender até 2011 um milhão de clientes que atuam no setor informal.

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