( Gil Leonardi/Imprensa MG)
Prestes a completar três meses desde a chegada ao Estado, a pandemia da Covid-19 está “relativamente sob controle” em Minas, segundo o governador Romeu Zema (Novo), sobretudo na comparação com os números gerais do país e de outras unidades da federação. Mesmo assim, ele entende que o momento é de atenção total para evitar agravamento do quadro. “A pandemia é como um incêndio: se você age rapidamente, tem controle; se demora a agir, passa a ter muita dificuldade para controlar”, diz Zema.
Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o governador fala também de política e da situação financeira de Minas, que pode ser bastante aliviada, em breve, com um aporte de R$ 5 bilhões do BNDES. A operação consistiria na formação de uma sociedade com o banco de fomento na gestão da mina de nióbio da Codemig, pertencente ao Estado.
Que balanço o senhor faz da pandemia no Estado, até o momento?
A situação ideal seria nós nem termos deixado o vírus chegar. Mas Minas não é como a Nova Zelândia, que conseguiu erradicar o vírus, por ser um país e uma ilha. Aqui, estamos inseridos entre vários estados e temos de aprender a conviver com o coronavírus em tais condições. Proporcionalmente, porém, Minas está muito melhor que o Brasil, onde a taxa de letalidade é em média 10 vezes superior à nossa, se considerarmos óbitos por 100 mil habitantes. No país, aliás, apenas o Mato Grosso do Sul tem hoje essa taxa menor que a de Minas. Portanto, eu diria que a situação até o momento está relativamente sob controle, apesar da curva ascendente, que deve chegar ao pico em 15 de julho. Fomos muito ágeis em tomar as medidas de isolamento. E vale lembrar que a pandemia é como um incêndio: se você age rapidamente, tem controle; se demora a agir, passa a ter muita dificuldade para controlar.
O senhor acha que a população tem contribuído para esse relativo controle?
O mineiro aderiu ao isolamento de forma melhor que as pessoas de outros estados. Somos um povo mais consciente, mais criterioso. E a questão demográfica também ajuda, já que 80% da nossa população está no interior. Tivemos ainda tempo suficiente para estruturar o setor de saúde, nesses quase 75 dias de pandemia.
Minas tem hoje um estoque de cerca de 150 mil kits de testes para detectar a doença. Quando iremos usá-lo?
Qualquer pessoa que procure a rede hospitalar em Minas, hoje, e que um médico conclua que tem sintomas da Covid, será testada. Não falta teste. O que não fizemos, até porque temos limitações orçamentárias, são testes no estilo “drive thru”. Nossos recursos são poucos, e preferimos investir em UTIs. Os testes detectam como a pandemia está se comportando. E vale lembrar que em Minas ela tem se comportado de forma muito melhor que em outros lugares. Mantemos o estoque para que, amanhã, num momento mais grave, não faltem os kits, que não estão fáceis de adquirir. Caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém.
Em relação à situação financeira do Estado, que recebeu esta semana a primeira de quatro parcelas de R$ 748 milhões do socorro federal, quais as perspectivas?
Os R$ 748 milhões realmente permitiram começar a honrar parte da folha deste mês, no dia 15. Não viesse esse valor, teríamos com certeza de postergar bastante o pagamento. Tenho dito que o socorro federal é muito bem-vindo, mas insuficiente. Agora em junho, teremos condição de pagar a folha, mas o mês que vem nos preocupa muito. Não sabemos como se portará a atividade econômica, que até se recuperou um pouco, mas está longe de ser o que era na pré-pandemia. Vamos acompanhar, mas é muito difícil fazer qualquer tipo de previsão.
Como andam as relações do Executivo com a Assembleia?
Acho que todo governo enfrenta dificuldades com o Legislativo, em alguns momentos. Muitas vezes, a opinião de um não é a mesma do outro e isso é normal na democracia. Gostaria muito que o Estado já tivesse efetuado várias reformas. Estamos completando um ano e meio de mandato, tivemos três secretários de Governo, mas vale lembrar que o Igor Eto, o atual, é o primeiro que efetivamente é do partido Novo. Vejo que com ele as coisas têm caminhado de forma mais satisfatória. Além disso, vejo que a Assembleia acabou enxergando que, com a crise, na pandemia, com a queda na arrecadação, com a situação financeira cada vez mais grave, as reformas são agora, mais do que nunca, inevitáveis.
E em relação às privatizações de Cemig, Copasa e Codemig?
Cemig e Copasa são para um segundo momento, não são prioridade agora, por causa da pandemia, com mercados retraídos. Em relação à Codemig, o que estamos tentando fazer é que o BNDES venha a assumir a operação (antecipação de recebíveis do nióbio), já que o mercado financeiro está parado. Então, talvez o Estado venha a ter o banco como sócio na mina de nióbio. Isso poderia gerar R$ 5 bilhões e nos dar fôlego para podermos passar este ano e até que as reformas comecem a surtir efeito. A Assembleia deve votar isso, assim como as reformas, em cerca de 40 dias, até o início do recesso legislativo.