Minas tem a pior renda domiciliar per capita do Sudeste e a 10ª do país

Bernardo Almeida
bpereira@hojeemdia.com.br
28/02/2020 às 22:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:47
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Embora seja dono do terceiro PIB entre as unidades federativas do país, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro, Minas Gerais está apenas na 10ª posição no ranking de rendimento domiciliar per capita em 2019 entre os 27 estados brasileiros e o Distrito Federal. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento calcula a divisão dos rendimentos domiciliares, em termos nominais, pelo total dos moradores de cada domicílio, considerando sempre os valores expandidos pelo peso anual da pesquisa. Os R$ 1.357,59 per capita colocam Minas abaixo da média nacional, de R$ 1.438,67, e abaixo de todos os estados das regiões Sudeste e Sul do país, além de atrás também de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Para o professor e economista Raimundo de Sousa Leal Filho, da Fundação João Pinheiro (FJP), os números não trazem surpresa e manifestam o que já é observado na análise do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, não o global, dos estados. 

Assim como no rendimento, o PIB per capita também tem Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro nas primeiras posições. O Maranhão aparece em último e Minas Gerais ocupa posição mediana: 11º. “Trata-se de uma questão de décadas. Há muito tempo a economia mineira está estagnada, pelo menos desde 1980. A última vez que Minas de fato evoluiu foi no final da década de 60 e em meados da de 70, com investimentos na siderurgia e a chegada da Fiat”, avalia Raimundo Leal. 

O professor afirma que o desenvolvimento econômico no Estado passa por ações para otimizar o tráfego de pessoas e mercadorias. “A geografia de Minas não ajuda, com todas as montanhas”, acrescenta.

Evolução

A média nacional de R$ 1.438,67 subiu em relação a 2018, quando ficou em R$ 1.373,00. O DF foi a unidade da federação com a maior renda em domicílio per capita em 2019, com R$ 2.685,76, seguido por São Paulo (R$ 1.945,73) e Rio de Janeiro (R$ 1.881,57). Pará (R$ 806,76), Alagoas (R$ 730,86) e Maranhão(R$ 635,59) ocupam os últimos postos. Ainda segundo Leal, uma tendência observada não apenas em 2019, mas nos últimos anos de análise do rendimento domiciliar per capita, é a ascensão das unidades federativas fora das regiões mais desenvolvidas do país. 

“Os estados da região Centro-Oeste estão crescendo bem acima da média do país, assim como alguns do Nordeste. A diferença é que os do Centro-Oeste já estavam mais constituídos, por isso estão mais bem ranqueados”, pontua Leal. Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás estão, respectivamente, na 7ª, 10ª e 12ª posições. “Mas os estados do Nordeste vêm diminuindo o abismo para os demais”, completa.

A pesquisa é feita com base nas informações colhidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e é enviada ao Tribunal de Contas da União (TCU).

A Pnad Contínua é realizada em 211 mil domicílios de 3.500 municípios brasileiros. 
A divulgação do rendimento nominal mensal dos domicílios brasileiros serve como um dos critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e dos Distrito Federal (FPE).

 Ganho abaixo do mínimo exige ‘malabarismo’ de catadora 

Apesar de estar abaixo dos demais estados da região Sudeste e de outras seis unidades federativas, o rendimento domiciliar médio de R$1.357,59 colocou Minas Gerais acima do valor do salário mínimo do ano passado, de R$ 998. Doze estados brasileiros se encontram abaixo dessa linha, entre eles oito da região Nordeste – exceção do Rio Grande do Norte.

A realidade abaixo do salário mínimo é algo presente na vida de Marilda Cândida de Souza, de 54 anos. Solteira, a catadora trabalha há 12 anos na coleta de resíduos para reciclagem em Belo Horizonte e tem nesta atividade o único suporte financeiro para ela e os dois filhos mais novos, com quem mora. Os outros cinco já estão casados.

A renda mensal em 2019 variava de R$ 800 a R$ 950 por mês pelo trabalho desempenhado na Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare). 

Com uma renda abaixo do mínimo é difícil acompanhar a evolução de preços de itens básicos, desde as contas da casa até a alimentação, item que recentemente mais tem pressionado a contabilidade de Marilda. 

“Ultimamente, o que tem saído mais caro é o gás de cozinha e a carne. Carne eu compro as mais baratinhas, só para não faltar no prato mesmo”, comenta Marilda Cândida de Souza, que ainda consegue economizar um pouco da renda a cada mês. 

“Eu controlo muito e não gasto à toa. Gasto mais nas coisas que são necessidades da casa, como contas de luz e água. Dá para ir vivendo, guardando uns R$ 100”, conta.

Em função do volume de lixo nas ruas durante o Carnaval, esse valor deve se aproximar mais dos R$ 1 mil neste mês, ainda assim ficando abaixo do valor reajustado de salário mínimo para 2020, agora de R$ 1.045.

Sem aluguel para pesar no bolso por viver em casa própria, a catadora conta que a baixa renda lhe aperta mais no início do ano, quando precisa se preocupar com compras de materiais e uniformes dos filhos. “Quando chegam as listas escolares, não compro tudo, mas apenas o necessário para a criança estudar”.

  

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