Em Belo Horizonte, não é difícil flagrar motoristas falando ao celular nas ruas e avenidas da cidade (Fernando Michel/Hoje em Dia)
O uso do telefone na direção gerou média de 15 multas por hora a motoristas em Minas Gerais no ano passado. Pesa no bolso, mas especialistas enfatizam que o prejuízo pode ser incalculável. Uma simples “olhadinha” no aparelho pode causar distrações que resultem em acidentes graves no trânsito.
Segundo o tenente André Muniz, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), em Belo Horizonte a maior parte dos flagrantes da irregularidade se concentra no Anel Rodoviário, considerado a “zona quente” da cidade, palco frequente de acidentes graves.
“O ponto de autuação é onde trafega a maior quantidade de veículos, em torno de 160 mil carros por dia, que é o Anel Rodoviário. A gente nota que as pessoas estão desrespeitando muito e, com isso, o número de autuações do tipo é grande”, afirma.
O militar detalha que as autuações se dividem em três grupos: falar ao celular (19.554), considerada infração média; segurar o telefone (71.592) e manusear o aparelho enquanto dirige (43.652), sendo essas classificadas como gravíssimas, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro.
“Utilizar telefone celular é (falha) cometida muito por motociclistas quando eles encaixam o celular no capacete. Já manusear o celular é quando a pessoa começa a teclar, e é uma das mais graves porque a pessoa tira o olhar do campo de visão para dar atenção ao aparelho”, explica.
O tenente ainda reforça que os motoristas que se arriscam utilizando aparelho enquanto dirigem estão sujeitos a serem penalizados com até sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Além disso, a irregularidade rende multa de até R$ 293,47.
“Nenhuma olhada rápida é permitida. Tem a questão dos aplicativos para direcionar e que é permitido, como o GPS. Mas você também não deve ficar lá digitando, você deve parar o carro, colocar o endereço que você queira e depois seguir viagem”, orienta.
Custo alto
Olhar para o celular e dirigir ao mesmo tempo pode custar a vida – de quem dirige, de outros motoristas e dos pedestres. O diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, explica que quando uma pessoa está dirigindo, qualquer olhadinha para o celular faz com que a direção fique “cega” por 4 ou 5 segundos.
“Ou seja, muitos metros, dependendo da velocidade, sem que o condutor esteja com sua atenção totalmente voltada para o trânsito. Enviar mensagens, por exemplo, por aplicativo de WhatsApp, conduzindo um veículo a 80 Km/h, equivale a estar dirigindo com os olhos vendados por um percurso das dimensões de um campo de futebol oficial”, detalha.
O especialista da Ammetra explica ainda que as distrações com o celular fazem com que os motoristas reajam de forma insegura, reduzam a velocidade inesperadamente, tenham dificuldade de manter o posicionamento na via e ainda um maior tempo de reação em caso de frenagem.
“Existe uma distração manual, que é o ato de pegar o celular; uma distração visual, que é o compartilhamento da visão com a tela do dispositivo e com o pára-brisa do veículo, e uma distração cognitiva, que é o processamento das informações. Falar ao telefone também é uma condição que altera a atividade cerebral quando realizada em conjunto com o ato de dirigir. Quando realizamos uma ou mais tarefas em execução ao mesmo tempo serão parcialmente negligenciadas pelo cérebro”, alerta.
Coimbra ressalta ainda que o uso de celular ao volante aumenta a probabilidade de acidente de trânsito. Diz que as colisões traseiras geralmente estão associadas a isso.
“Em relação ao sistema Bluetooth, é um avanço da indústria automobilística, que buscou minimizar essa distração manual. Obviamente que não vai causar a distração manual, mas segue causando em partes a distração visual e, principalmente, na atenção, pois o motorista (numa ligação) vai ficar pensando no que tá conversando, vai processando a resposta, mantendo um grau menor de atenção à direção”, pontua.
Fiscalização
Além dos riscos ao trânsito, o uso descontrolado do celular já faz com que a prática irregular ao volante ocupe a quinta colocação no ranking de autuações mais cometidas por motoristas no Brasil. Para o especialista em transporte e trânsito Márcio Aguiar, a fiscalização contínua pelos órgãos de segurança e a penalização efetiva são as únicas formas de coibir a prática e impedir os acidentes.
“Só vamos combater isso com fiscalização. É fundamental e isso só funciona quando eu faço a multa chegar ao autor. Infelizmente, a ação educativa não existe porque entra no ouvido e sai no outro. É preciso ter gente na rua olhando, multa e cobrança de pagamento porque esse conjunto todo que faz com que os acidentes reduzam”, opina.
Questionada sobre ações de fiscalização nas estradas em Minas Gerais, a Polícia Militar Rodoviária afirma que realiza ações nas rodovias diariamente, além de operações específicas, para coibir a infração.
“A viatura, ao identificar uma pessoa cometendo a prática, já pega a placa e emite a autuação. A PMRv orienta que o condutor não utilize o celular. É uma situação que vemos muito, mas a polícia está fiscalizando dia e noite”, pontua o tenente Muniz.