(Ana Paula Lima/Hoje em Dia)
Após realizar uma manifestação na manhã desta quarta-feira (21), no Centro de Belo Horizonte, contra um edital publicado pela prefeitura, ambulantes da capital mineira participaram de uma reunião com a secretária municipal de Política Urbana, Maria Caldas. Por mais de uma hora, os trabalhadores que utilizam carrinhos, como pipoqueiros e vendedores de frutas, repassaram suas reivindicações.
Em questão está um edital para licenciamento de comerciantes que trabalham com veículos de tração humana, cujas inscrições foram abertas nesta segunda-feira (19). As licenças serão distribuídas por sorteio público. Mas para a categoria, a administração municipal deve criar mecanismos para preservar os comerciantes que já trabalham nas ruas da cidade – muitos deles, há décadas. Uma manifestação foi realizada pela manhã na praça Afonso Arinos, com direito à distribuição gratuita de pipoca, e os ambulantes deram início a um abaixo-assinado.
Foram ofertadas 600 vagas no edital, sendo 300 para pipoqueiros – mas há pelo menos 320 trabalhadores vendendo pipocas em Belo Horizonte, especialmente na região do Centro e da Área Hospitalar. O edital fala em 75 vagas na região Centro-Sul, exceto o hipercentro. Ou seja, a área que mais concentra ambulantes com carrinhos não está contemplada no texto. Mas para os trabalhadores, para que o comércio seja rentável, é fundamental que o trabalho seja feito onde há grande fluxo de pessoas.
Segundo a pipoqueira Lorraine Ferreira, da Associação de Microempreendedores Individuais, a reunião foi positiva para a categoria. “A secretária disse que precisava de um tempo para viabilizar o que estávamos reivindicando. A reunião contou também com um promotor, que nos dizia o que era possível ou não conforme a lei”, afirmou.
Durante a reunião, a secretária já teria adiantado que somente nos dois primeiros dias de edital aberto, 2 mil pessoas já teriam se cadastrado. “Tem 20 anos que trabalho com isso. Imagina se alguém que nunca fez uma pipoca conseguir ser escolhido e eu não? O que vou fazer? Porque a pipoca é uma profissão passada de geração para geração, tem que gostar e ter carinho pelo que faz”, diz Lorraine, que é filha de pipoqueira e começou a trabalhar quando tinha 11 anos.Ana Paula Lima/ Hoje em Dia / N/A
Ambulantes realizam um abaixo-assinado que será entregue à prefeitura
A representante dos pipoqueiros lembra que a licença prevista no edital não indica qual será o local de trabalho. Atualmente, os pontos de atuação são distribuídos entre os próprios trabalhadores.
Negócio de família
Assim como Lorraine, Ana Paula Lima começou a trabalhar como pipoqueira quando tinha apenas 11 anos, acompanhando o pai. Toda a sua família depende da pipoca para sobreviver. “Minha mãe, meus dois irmãos, meus tios, toda a família é de pipoqueiros. É de onde tiramos nosso sustento. Se não formos contemplados, como vai ser?”, lamentou.
Ana Paula lembra que o edital fala em “veículo de tração humana”, ou seja, também contempla pessoas que vendem churros, bebidas, picolé e vários outros tipos de alimentos. Ou seja, há bem menos vagas do que o número de profissionais que já atuam nesse tipo de comércio.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Política Urbana, mas ainda não obteve retorno.