(Maurício de Souza)
A chuva na madrugada de 16 de janeiro de 2003 foi personagem de uma das histórias mais tristes dos 112 anos de Belo Horizonte. Junto à falta de investimentos contínuos na prevenção de acidentes geológicos, contribuiu para que nove pessoas de uma família morressem em um deslizamento de terra no Morro das Pedras, na zona Oeste da capital. As vítimas foram seis irmãos e três primos deles, de 3 a 19 anos.
Uma década depois, parte do aglomerado teme novas tragédias. Levantamento feito em 2011 pela Companhia Urbanizadora e de Habitação de BH (Urbel) aponta 62 moradias em risco geológico alto ou muito alto na região.
Para sempre
O tempo não apaga as lembranças daquela noite de 2003. “Acordei ao ouvir pessoas gritando por socorro. De malandro a trabalhador, todo mundo saiu de casa com alguma ferramenta para ajudar”, diz o pedreiro Silvestre Pedro de Paulo, de 52 anos.
Hoje, o cenário na Vila São Jorge é bem diferente. Onde havia a ocupação irregular soterrada pela lama, cresce o capim. Pouco acima, foi construída uma praça para impedir novas invasões, mas o lugar está tomado por mato e trincas.
A ausência de casas, no entanto, não significa que o local é seguro. “Vez ou outra, ainda desliza terra depois de uma chuva forte. É um perigo. Olha o tamanho dessas pedras”, diz o pedreiro. Uma erosão bloqueia a passagem de carros pela via que leva à área de lazer.
O risco de queda de um muro de contenção entre as ruas Marcelo de Araújo Braga e Estrada Nova também deixa a comunidade apreensiva. O paredão foi erguido há anos por morador, mas cede aos poucos e ameaça um barracão ao lado e casas em frente.
“Se ruir completamente, a terra vai deslizar nas primeiras chuvas. Se a árvore cair junto, o problema será ainda maior”, afirma o cobrador Almir Antônio Severino das Neves, de 43 anos.
Ocorrências nos últimos dias confirmam a chance de um acidente acontecer. Há duas semanas, parte do muro caiu durante uma tempestade, cobrindo a rua. “A prefeitura veio aqui e tirou um pouco de terra, mas nós é que arrastamos o resto do material para o canto”.
Segundo o cobrador, um empurra-empurra entre os órgãos públicos dificulta a solução do problema. “A gente liga para a prefeitura, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, mas ninguém assume a responsabilidade”.
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