(Leonardo Morais/Hoje em Dia)
Os sinais de recuperação da economia dos Estados Unidos, após uma forte crise mundial iniciada em 2007, reacendem o sonho de parte da população mineira, principalmente a do Leste do Estado, de ir para a América do Norte. Uma das indicações de que a emigração ganha força é a alta de 20%, em 2015, no número de passaportes emitidos pela Polícia Federal (PF) de Governador Valadares, cidade conhecida por “exportar” mão de obra brasileira, em especial para a terra do Tio Sam.
“Muitos retornaram ao Brasil com expectativa de encontrar emprego ou abrir um negócio que garantisse um padrão de vida razoável. Por fatores que vão desde o despreparo para o mercado de trabalho até dificuldades de adaptação, a volta para os EUA passou a ser um desejo. Nos primeiros sinais de recuperação da economia americana, o movimento de emigração se intensifica”, explica a socióloga e pesquisadora da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), Sueli Siqueira.
Referência nas pesquisas sobre a migração de brasileiros, Sueli diz que o fluxo de valadarenses para os Estados Unidos nunca parou, mas teve uma redução significativa. Segundo ela, a cidade mineira e o entorno vivem a “cultura da emigração” e possuem redes sociais – parentes e amigos – que ligam os moradores a diversos países. “Temos famílias com entes vivendo em diferentes países. Migrar é uma alternativa e uma prática em busca de melhoria de vida e mais acesso ao consumo”, observa.
Outro caminho
Uma das rotas mais usadas pelos valadarenses que emigram ilegalmente para os EUA é o deserto do México. [/TEXTO]Para coibir a entrada clandestina, a Operação Coiote, deflagrada pela PF no início deste mês, desarticulou uma quadrilha que cobrava até R$ 30 mil pela travessia ou montagem de vistos. O dono de uma casa de turismo de Valadares foi preso.
Falta de emprego motivou retorno de emigrantes
A remessa de dinheiro estrangeiro para Governador Valadares tem papel importante na economia local. Porém, a crise mundial e a redução da oferta de empregos – principalmente nos Estados Unidos e em Portugal, onde ainda está concentrada a maior parte dos emigrantes da cidade –, grande parte dos moradores retornou para o Leste de Minas Gerais e, como consequência, o envio de moeda caiu.
“Enquanto a economia mundial vivia um momento de conturbação, o Brasil era visto como um país com economia ascendente, e isso também contribuiu para que os emigrantes antecipassem a volta ao país. Hoje, os dólares e os euros continuam chegando, mas em menor escala”, enfatiza o secretário municipal de Desenvolvimento de Valadares, Edmilson Soares, sem, contudo, fornecer números.
Negócio Próprio
Se depender do universitário Geraldo Rodrigues de Oliveira, de 25 anos, os dólares continuarão chegando à cidade mineira. Com parentes e amigos morando nos EUA, ele sonha em fazer o mesmo trajeto para juntar dinheiro e abrir o próprio negócio em Valadares. “Com ou sem crise, lá é mais fácil ganhar dinheiro. A moeda é mais forte”, justifica.
Já a autônoma Isabel Cristina de Oliveira Damásio, de 49 anos, espera um dia ir para os Estados Unidos aprender inglês, conhecer outras culturas e a nação que seduziu dezenas de parentes e amigos. “Só não fui ainda por falta de oportunidade”, afirma.