Após doações, alunos do Jequitinhonha embarcam para olimpíada de matemática em Taiwan

Daniele Franco
01/08/2019 às 15:22.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:49
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Os seis estudantes de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, convidados para competir em uma olimpíada internacional de matemática em Taiwan, estão, finalmente, a caminho de seus sonhos. Thais Pereira, Eric Soares, Gabriel Lopes, João Lemos, João Mota e Vitor Martins, todos de 14 anos, saíram nesta quinta (1º) da cidade onde moram e embarcam nesta sexta-feira (2) para Taipei, capital do país onde acontece a competição.

Esta etapa da Olimpíada Internacional Matemática sem Fronteira acontece entre os dias 4 e 8 de agosto. Em Taipei, os estudantes serão uma das 29 equipes brasileiras convidadas para participar, conforme contou o professor de matemática do grupo, Adalgisio Gonçalves Soares. "Eu acredito muito nos meninos e, apesar de não ter havido muito tempo para os preparos, foi assim também nas etapas no Brasil. E eles conseguiram tudo, estou muito confiante que eles vão trazer medalhas para o nosso país", revelou o professor, que também embarca para a Ásia como acompanhante dos alunos.

Desafios

Matriculados no 9º ano do ensino fundamental de uma escola pública em Minas Novas, os adolescentes foram medalhistas nas etapas estadual e nacional da Olimpíada Internacional Matemática sem Fronteira e convidados a competir internacionalmente, mas a viagem teve que ser toda paga por eles. Segundo o professor de matemática, o custo para cada aluno seria em torno de R$ 12 mil. Devido a isso, em julho, os alunos iniciaram uma campanha para arrecadar os recursos para a viagem.

Para levantar a quantia, toda a comunidade escolar se envolveu e trabalhou em campanhas de arrecadação. Na internet, o grupo criou uma vaquinha com a intenção de levantar R$ 77 mil. Como o tempo foi curto, cerca de um mês apenas, os alunos conseguiram apenas R$ 16 mil por contribuições on-line, mas o restante do dinheiro foi conseguido com doações diretas. "As doações foram a principal fonte de renda, mas fizemos várias coisas, como bazares, promoções e ações na cidade", detalhou o professor.

Mesmo após conseguirem o dinheiro, outros percalços apareceram. O professor precisou viajar a São Paulo para resolver problemas com os vistos dos adolescentes e garantir que pudessem embarcar. Agora, ele já está na capital paulista e espera os alunos para embarcarem juntos do Aeroporto de Guarulhos, nesta sexta.

Turma brilhanteArquivo pessoal

Da esquerda para a direita: Gabriel Lopes, João Mota, Thais Pereira, Eric Soares, Vitor Martins e João Lemos

Para Soares, o empenho e a vontade da turma em aprender foram os responsáveis por levá-los tão longe em uma competição internacional. O professor relatou que busca ensinar da forma mais cativante possível e que o método tem surtido efeito. "Trabalho com essa turma desde o 6º ano e sempre procurei ensinar a matemática de forma descontraída para tentar atrair o aluno, principalmente porque não é o conteúdo favorito da maioria dos alunos, e eles sempre abraçaram as ideias que eu trazia e iam além", contou.

Baseado no bom desempenho dos alunos, o professor não teve dúvidas quando ouviu falar da Olimpíada Matemática sem Fronteiras e inscreveu a turma para participar antes mesmo de falar com a escola. Após ter a participação aprovada, o docente conversou com a direção, que acatou a ideia e pediu que ela fosse estendida a todas as turmas. "Foi tudo muito rápido e nem tivemos tempo de preparar os meninos, mas o desempenho deles foi mais do que suficiente e eles conseguiram trazer as medalhas para nossa cidade", relatou. Agora, Soares contou que conseguiu estudar com os alunos as provas de anos anteriores para a etapa internacional.

A conquista dos estudantes é um marco para a cidade e para a região, acredita Soares. O professor declarou que sempre buscou levar o que há de melhor para os alunos, mesmo que a realidade deles seja tão dura, em uma região distante dos grandes centros, financeiramente carente. "Nunca deixei que eles pensassem que a questão financeira fosse uma barreira intransponível. Mesmo que ela interfira, sim, no aprendizado, há maneiras para superar as dificuldades. Os meninos são a prova de que mesmo nesses locais a educação é o que quebra as barreiras", concluiu.

A Olimpíada

A Olimpíada Internacional Matemática sem Fronteiras (OIMSF) é a seção brasileira do evento internacional Mathématiques sans Frontières, criado em 1989, e organizado pela Association Mathématiques sans Frontières, com sede em Strasbourg, Alsácia, na França. No Brasil, a OIMSF é organizada pela Rede do Programa de Olimpíadas do Conhecimento (Rede POC).

Para concorrerem na competição internacional, estudantes de escolas públicas e privadas brasileiras, matriculados regularmente nos ensinos Fundamental (I e II) e Médio (regular, suplência ou técnico), fizeram uma prova mundial e on-line no dia 5 de abril. 

Foi o resultado dessa prova que motivou a Rede POC a convidar os meninos de Minas Novas para integrarem a delegação brasileira. Ao todo, os estudantes da cidade mineira conquistaram quatro medalhas: ouro estadual e ouro nacional, com o 9º ano; e ouro estadual e prata nacional, com o 3º ano.

Para mais informações, consulte o site oficial do evento.

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