Após nove anos e sete meses, os primeiros envolvidos no assassinato de três fiscais e de um motorista do Ministério do Trabalho, caso que ficou conhecido como Chacina de Unaí, foram condenados pelo crime.
A juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima proferiu a sentença na madrugada deste sábado (31). Erinaldo de Vasconcelos Silva foi condenado a 76 anos e 20 dias por formação de quadrilha e pelos quatro homicídios triplamente qualificados. Outro réu, Rogério Alan Rocha Rios, recebeu pena de 94 anos de reclusão pelos mesmos crimes de Erinaldo. O último réu, William Gomes de Miranda, vai pegar 56 anos de prisão pelo homicídio triplamente qualificado.
Durante cinco horas, as partes tentaram convencer os jurados sobre a culpa ou inocência dos réus. Após o debate, a juíza federal Raquel Vasconcellos de Lima leu quase cem quesitos a serem votados pelo júri, que se reuniu para chegar a um veredicto.
Na fase de debates, a acusação explorou os laudos periciais que constam no processo e se preocupou em mostrar a relação dos irmãos Antério e Norberto Mânica, grandes produtores de feijão do Noroeste do Estado, com o crime. Ambos, acusados de explorar trabalho escravo, haviam recebido pesadas multas da fiscalização.
O procurador da república Vladimir Aras ressaltou que o julgamento é contra a “humilhação contra o semelhante, o retrato de um país que ainda convive com essas mazelas, preso a grilhões”.
A defesa, por sua vez, se preocupou em tentar derrubar algumas qualificadoras do crime, o que garantiria uma pena menor. Advogados apontaram falhas nas investigações que alterariam o resultado final do processo, chamado de “mequetrefe”. “Para mim, o processo deve ser devolvido ao Ministério Público Federal para terminar as investigações. Quem eram as pessoas de Brasília que monitoravam os passos dos envolvidos? Eram mandantes do crime também?”, questionou o advogado de Rogério Alan, Sérgio Moutinho.
O ponto alto do júri foi o depoimento de Hugo Pimenta, um dos acusados do crime, convocado para ser ouvido como informante. O cerealista, denunciado como intermediário dos assassinatos, afirmou que as mortes foram encomendadas por Norberto Mânica, conhecido como “Rei do Feijão”.
Pimenta, que alegou não ter envolvimento direto com as mortes, fez a denúncia para garantir o benefício da delação premiada e a redução da pena, em um acordo com o Ministério Público Federal.
Atitude semelhante tomou Erinaldo, que também contou o que disse sobre os crimes para se beneficiar com penas mais brandas. Réu confesso, ele afirmou que fez tudo a mando do fazendeiro Norberto Mânica que ainda o ofereceu dinheiro para que ele alegasse que matou os fiscais para roubar.
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