(Montagem Hoje em Dia)
A Pampulha sonhada por Juscelino Kubitschek, projetada por Oscar Niemeyer, ornamentada por Cândido Portinari e admirada pelos mineiros agora é bem cultural de todo o mundo. O conjunto moderno foi elevado ontem a patrimônio da humanidade, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco).
Porém, em meio às comemorações após enfrentar a concorrida disputa pela chancela internacional, o cartão-postal de Belo Horizonte mira novos desafios para manter o reconhecimento global, valorizar o acervo e atrair mais turistas, incrementando a economia da cidade.
Dentre as batalhas que ainda virão, a principal é colocar o Iate Tênis Clube, literalmente, no estaleiro. A Unesco considera como primordial a necessidade de jogar no chão o puxadinho construído na edificação, que descaracteriza a obra de Niemeyer. A busca por uma solução é mediada pelo Ministério Público, que tenta um acordo entre a diretoria do clube a Prefeitura de BH.
Outro imbróglio, que para muitos pode parecer utópico mas que começa a ganhar forma, é a despoluição da lagoa. A limpeza do espelho d’água tem previsão para ser finalizada em 2017.
Intensificar
Além das intervenções físicas, que ainda contam com os restauros da Igrejinha e do Museu de Arte, medidas para acolher os visitantes precisam ser intensificadas. Quem frequenta a região clama por melhores sinalizações, mais opções de transporte e banheiros, dentre outras demandas.
Segundo a diretora do conjunto moderno da Pampulha, órgão vinculado à Fundação Municipal de Cultura, Luciana Rocha Féres – que estava em Istambul para receber o título representando o poder executivo –, um plano estratégico tem sido traçado com a participação de várias secretarias da prefeitura da capital.
Ela reforça, no entanto, que todas as ações previstas têm prazo de três anos para serem colocadas em prática. “Em 2019, a Unesco fará uma avaliação do complexo. Vamos supor que não esteja concluída uma obra, mas que a mesma está em curso. Isso será levado em conta. O que precisa existir é o compromisso”, afirma.
Atualmente existem apenas quatro banheiros na avenida Otacílio Negrão de Lima, ao longo da orla. Segundo a prefeitura, eles foram reformados e, para utilizá-los, a pessoa paga R$ 0,50. Não há projetos para novos. Já a Fundação Municipal de Cultura informou que todas edificações têm instalações sanitárias gratuitas para os visitantes.
Acesso
A BHTrans informou que disponibiliza “diversas opções aos usuários de todas as regiões da cidade para acessar a Pampulha”. Recentemente, no entanto, linhas turísticas implantadas deixaram de operar em função da baixa demanda. A empresa de transportes e a Belotur avaliam outras possibilidades de deslocamentos. Já com relação às placas de sinalização há um projeto especial com padrão exigido pela Unesco, que a prefeitura promete executar.
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Em meio às comemorações, prefeitura garante melhorias
Poucas horas depois do anúncio da Unesco, o prefeito Marcio Lacerda reuniu a imprensa para celebrar a chancela internacional e destacou o trabalho que vem sendo realizado desde 2012 na busca do título. O chefe do Executivo municipal também prometeu melhorias.
Lacerda informou que aumentará o número de câmeras de videomonitoramento na Pampulha. “Temos que concluir o restauro do museu, da Igrejinha. A Praça (Dino)Barbieri precisa ser remodelada de acordo com o desenho original. Também queremos readequar a sinalização, manter um terminal de informação para turistas e cuidar do jardins”.
Ele disse que a Belotur negocia pacotes de turismo com agências do Brasil de modo a atrair visitantes para a cidade.
Prazo
Com a eleição, a prefeitura terá três anos para adequar o conjunto arquitetônico da Pampulha às exigências da Unesco. Durante a votação que deu o título à cidade, ontem, o órgão internacional citou a degradação da lagoa e a conservação das construções originais.
Marcio Lacerda mencionou os investimentos no valor de R$ 100 milhões para desassoreamento da lagoa e os R$ 30 milhões pelo tratamento de choque da água, o que, promete a prefeitura, vai tornar possível a prática de esportes náuticos.
O prefeito também relatou ter conversado com Maria Estela Kubitschek, filha adotiva de Juscelino. “Ela me disse que, de onde está, o pai vai estar comemorando o título. É uma honra muito grande para Minas Gerais, fruto de um trabalho que já se estende há quatro anos e que vai tornar a cidade muito mais acolhedora para moradores e turistas”, frisou.
À espera
O estudante mexicano Cristian Tovar, de 22 anos, visitava Belo Horizonte pela primeira vez na manhã de ontem. Ele disse que, antes de sair do país, nem ele nem as amigas – as também mexicanas Karina Briseño, de 26, e Daniela Tovado, de 25 – encontraram informações sobre o conjunto. “Vou iniciar um intercâmbio em São Paulo e resolvi vir para Belo Horizonte. Cheguei até a Igreja por acaso. É muito bonita e ainda com um lago no entorno”.
Ele, porém, se assustou com a quantidade de lixo na lagoa e esperava encontrar uma balsa para passear. “Espero que o título dê mais opções de atividades”.
A empresária belo-horizontina Juliana Batistele, de 32 anos, segue a mesma linha. Passeando com o marido e os dois filhos, ela disse que, apesar de morar no Castelo (Pampulha), visita pouco o cartão-postal. “Não tem muito mais para fazer aqui que caminhar e admirar a paisagem. A gente agora vai ficar na expectativa de ver a lagoa despoluída e com mais opções de lazer para quem visita”.
Por dentro da Pampulha
Tirar uma foto ao lado de um dos imponentes edifícios do conjunto moderno da Pampulha, elevado ontem a patrimônio cultural da humanidade, é situação comum e vivida diariamente pelos visitantes que admiram as construções assinadas por Oscar Niemeyer (1907 – 2012).
Porém, quem tem a oportunidade de entrar nos monumentos pode contemplar também não só o traço curvo do concreto armado projetado pelo arquiteto carioca, mas uma gama de obras de arte, como a via sacra idealizada por Cândido Portinari, na Igrejinha da Pampulha.
Outro exemplo é a Casa do Baile. Capaz de despertar os olhares dos turistas pelas sinuosas curvas e colunas expressivas, o imóvel erguido em 1941 guarda relíquias da época de construção do complexo arquitetônico. Esboços do próprio Niemeyer, como a projeção da Igreja São Francisco de Assis, estão imortalizados nas paredes internas da entrada principal.
Já no Museu de Arte – primeiro projeto de Niemeyer para a Pampulha – pode-se perceber a concepção influenciada pelos trabalhos do arquiteto suíço Le Corbusier (1887 – 1965). A seguir, confira algumas dessas curiosidades presentes no interior das edificações, clicadas por Cristiano Machado, neste ensaio fotográfico.
Confira imagens: