(Maurício Vieira)
No coração de Belo Horizonte, um reduto da arquitetura neogótica com requintes das características romanas está prestes a ser entregue. A Igreja São José, depois de uma década de restauração interna e externa, terá as obras concluídas em novembro. A comemoração será no início de dezembro, quando a Imaculada Conceição é celebrada no templo sob preces atentas de milhares de fiéis. Parte deles frequenta, diariamente, o espaço.
O restauro da arquitetura original começou em 2009 e só foi possível graças a doações, que possibilitaram uma arrecadação de R$ 7 milhões. Durante a revitalização, mais de 50 pessoas trabalharam, desde as reformas na área interior até a etapa final, nos fundos da igreja.
Atualmente, conforme o padre Flávio Campos, as obras se dão por meio do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. “Eles sugeriram o levantamento do telhado do passadiço, que liga o convento à sacristia e que cortava a moldura da porta”, explica. Ainda, segundo Campos, foram retiradas telhas na área do jardim para requalificar o espaço.
Vivacidade
Na parte interna do templo, os restauradores conseguiram recuperar a pintura original sem a interferência de outras tintas. Porém, a coordenadora dos trabalhos e integrante do Grupo de Oficina de Restauro, Maria Regina Reis Ramos, explica que, no lado externo, as ações foram diferentes. “Tínhamos a igreja toda pintada de bege e, por meio de fotos e relatos, vimos que havia outra pintura. Fizemos as prospecções, mas só achamos os resquícios. Aqui fora, estamos reproduzindo o desenho de época”, diz.
Marrege, como Maria Regina é conhecida pelos colegas, lembra que as pinturas foram feitas pelo alemão Wilhelm Schumacher. “O templo é neogótico, mas tem cores imitando uma igreja românica, que é possível encontrar na Alemanha e na Suíça, mas com outros tons”, brinca a restauradora.
As cores, contudo, são um alento a quem passa pelo Centro da cidade. Bruno Simões, de 33 anos, trabalhador autônomo, esteve na igreja e aproveitou para tirar uma selfie na escadaria.
“Ficou linda demais e virou uma atração para quem vem de fora ver a nossa cidade. Temos que agradecer a Deus”, afirma.
O discurso é repetido pela família de Claiton Rodrigues, de 31, e Elizabeth Chaves, de 25: “Somos evangélicos, mas Deus é um só. A igreja está muito bonita”, declaram.Maurício VieiraCerca de 50 pessoas trabalharam durante a reforma da São José
É Dez
A campanha “São José é 10” foi a responsável pela arrecadação, diz o padre Flávio. Os frequentadores da igreja colaboram, todo mês, com R$ 10 para manter as obras.
Declarando devoção “a todos os santos”, a aposentada Adília Pereira de Almeida, de 84 anos, sente-se satisfeita em ver o resultado das contribuições ao projeto.
“Há nove anos, desde quando me mudei para BH, venho a essa igreja. Acho linda e me sinto muito orgulhosa em vê-la como está”.
O padre também ressalta que as obras não param por agora e que outras demandas já estão sendo analisadas. “Fica o desafio para os projetos de acessibilidade, de prevenção e combate a incêndio – que já está aprovado –, iluminação e piso das áreas externas. O trabalho para manter um bem como esse, do tamanho da Igreja São José, nunca acaba. Pode terminar a restauração, mas a conservação continua. Então, as intervenções tendem a perdurar por muito tempo. Ou para sempre”.
A Igreja São José foi fundada na capital em 1900. De segunda-feira a sábado, o templo recebe 1.500 religiosos. Aos domingos, o número chega a 5 mil.