(Frederico Haikal)
Questionada sobre os momentos marcantes da vida, a costureira aposentada Helena Ferreira da Silva se lembra de vários. Porém, enfatiza que está prestes a viver um dos maiores. Aos 94 anos, ela se prepara para receber, no próximo mês, o primeiro tetraneto – ou, como é mais conhecido, tataraneto. O nascimento de Davi, filho da trineta Isabela Ramaela Carvalhais Moreira, de 15 anos, está previsto para 29 de junho. A família mora em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde a notícia de que a idosa será tataravó chama a atenção da vizinhança. “Nunca ouvi falar de alguém que tenha visto a quinta geração. É curioso”, diz o comerciante aposentado Iedo Lage Vieira, de 68 anos. Dona Helena e o marido, Geraldo Flauzino, falecido há 12 anos, tiveram cinco filhos em quase sete décadas de união. Quatro ainda estão vivos. Dos rebentos, nasceram oito netos e sete bisnetos. Depois vieram três trinetos, entre eles a futura mamãe Isabela. “É muito gratificante ver a alegria dela com a minha gravidez. Estou feliz por dar o primeiro tetraneto”, afirma a adolescente. Ao descobrir a gestação, no entanto, a preocupação foi como contar para a aposentada. Com receio de que ela se sentisse mal, a família se reuniu com a idosa para uma conversa. “Eles disseram que tinham uma notícia ruim, mas que também era boa. Achei que a menina estava doente. Eu fiquei foi feliz, tem meu apoio. É melhor ganhar dois (a criança e o pai dela) na família do que perder um”, diz Helena. A felicidade, ressalta a costureira, só não é maior porque duas irmãs dela morreram recentemente. Dos irmãos que restaram, Helena é a única a ponto de ver a quinta geração. “E todas as mães da família, até chegar à Isabela, estão vivas. Ela tem a trisavó, a bisavó, a avó e a mãe”, enumera a aposentada. Helena não esconde a vontade de logo ver Davi. “Conhecer o rostinho, a boquinha, o sorriso”, diz. Ela também espera viver muito para acompanhar o crescimento do garoto. Vitalidade Se depender da idosa, o desejo será realizado. Apesar dos 94 anos, Helena é muito ativa. É ela quem rega as plantas do orquidário no quintal de casa, leva o filho de quase 70 anos para consultas médicas na capital e costura as fantasias da escola de samba que comanda na cidade, a Unidos dos Satãs. No período carnavalesco, a dedicação é exclusiva à organização da agremiação. Quando o assunto é futebol, ela não hesita em falar que é “bastante esportista”. Torcedora do Atlético Mineiro desde 1966, quando o irmão de criação, José Maria Carneiro, o “Noventa”, foi contratado pelo time alvinegro, a aposentada não perde um jogo da equipe. “Não discuto, é tudo muito saudável. Mas gosto de comentar as jogadas e comemorar nossas vitórias”. O tetraneto será atleticano? Ela prefere não opinar. “Tomara que seja, mas ele é quem vai escolher”.