Assédio e agressão no bloco Queixinho viram caso de polícia

Alexandre Simões
asimoes@hojeemdia.com.br
27/02/2017 às 15:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:44

"Estava com meus amigos, curtindo o Carnaval, querendo me divertir. E tudo isso foi interrompido por uma ignorância sem a menor justificativa. Um cara achando que tem direito de passar a mão em quem quiser, de se apropriar do corpo do outro. Isso é muito revoltante".

O relato é da jornalista F. G., de 24 anos, vítima de assédio e agressão na tarde do último domingo (26), durante o desfile do bloco Queixinho, na avenida Nossa Senhora de Fátima, no Carlos Prates.

Com um hematoma abaixo do olho esquerdo e o nariz ainda inchado, ela foi à Delegacia da Mulher, do Idoso e da Pessoa Deficiente, no Barro Preto, nesta segunda-feira (27), onde prestou queixa contra o agressor, identificado pelas redes sociais.

"Através de redes sociais, o fato começou a ser compartilhado, e chegou até mim a foto dele. E vi que era, pois a fantasia era muito caracterísitca, nunca vou esquercer. Uma tinta vermelha pelo corpo e rosto e o olho todo preto, muito forte. Ele é careca e tem uma barba grande. Não era difícil identificar. Quando recebi a foto, de cara vi que era ele", relata F. G.

A agressão, segundo a jornalista, foi o último ato de um processo marcado pelo desrespeito. 

"Ele encostava, mas o que me incomodava era o fato de estar muito próximo, querendo conversar demais, falando que queria beijar, falando umas coisas assim. Diante de várias negativas, não só minhas, mas da minha amiga, para se afastar, nada acontecia. Em determinado momento me irritei e cheguei para ele, com mum tom mais alto, dizendo que se não se afastasse, a gente teria que chamar a polícia. Ele se aproveitou que eu estava próxima a ele e acertou a cabeçada no meu nariz. E saiu andando, como se nada estivesse acontecido. Imaginou que isso ia ficar impune", relata F. G.

Apesar de a agressão ter sido testemunhada por várias pessoas, e da direção do bloco ter determinado a paralisação do desfile por causa do fato, o agressor fugiu do local.

Ainda nesta segunda-feira, a vítima fez exame de corpo de delito, no IML de Belo Horizonte. E a médica que a atendeu suspeita que ela tenha fraturado o nariz, o que não foi constatado no seu atendimento no domingo, no João XXIII. Ela fará novos exames e se a fratura for mesmo constatada, o agressor responderá por lesão corporal grave, além de assédio. Como ele já foi identificado, nos próximos dias será ouvido pela delegada que cuida do caso.

Mas segundo relatos de amigas de F. G. ele não parou de agir, pois elas receberam denúncias de outros casos de assédio envolvendo o acusado, um deles no bairro Carmo, na Zona Sul.

Apoio

F. G. foi à delegacia acompanhada por Gustavo Caetano, que é presidente do Queixinho, e pelo advogado do bloco, Pedro Paulo Polastri, que estão prestando todo tipo de apoio à jornalista desde a tarde de domingo.

E por ter publicado na página do Queixinho no Facebook uma foto do suspeito, Gustavo também virou vítima dele. Enquanto estava na delegacia, nesta segunda-feira, recebeu uma ligação em que o rapaz o ameaçava.

Diante do fato, prestou uma queixa contra o mesmo, que no telefonema se identificou como sendo o homem da foto postada na página do bloco.

"Nunca tinha acontecido algo assim no nosso bloco. Tem que ser tratado como um fato isolado, mas com muito cuidado, pois assédio é um assunto muito grave e uma das bandeiras do bloco", relata Gustavo.

A abre alas do Queixinho trazia na sua fantasia os recados: #respeita as minas, #assédio é crime, #é hora de dar um basta.

Para F. G., já passou da hora de dar um basta. E garante que vai brigar para que seu caso não seja apenas mais um.

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