(Maurício Vieira)
Sem lei para coibir ataques, Belo Horizonte enfrenta um crescimento exorbitante de vítimas de cães. Na última década, os atendimentos no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII saltaram 600%, passando de 160 em 2010 para 1.119 neste ano, de janeiro até novembro. A norma estadual que previa o controle foi revogada em 2016.
Para especialistas, o cenário seria diferente se as regras, como a obrigatoriedade do uso da focinheira, estivessem em vigor. O decreto que existia em Minas, de 2006, estabelecia controle para a criação de raças como pitbull e rottweiler. Na época também foi determinada a instalação do Disque-Cão, que receberia denúncias até de maus-tratos.
No ano seguinte, uma outra legislação definiu o Corpo de Bombeiros como responsável pela aplicação das diretrizes. Porém, nenhuma delas saiu do papel.Editoria de Arte
Para a fisioterapeuta Adriana Carvalho Simões, de 49 anos, a existência de normas poderiam tê-la poupado de ser mordida por um cão, no mês passado, enquanto se exercitava na avenida José Cândido da Silveira, no bairro Cidade Nova, Nordeste da capital.
O animal que atacou a mulher fazia parte de um grupo de dez cachorros conduzidos por um homem. “Deveriam obrigar o uso de focinheira, a gente não sabe a reação deles (dos animais). Agora, fico achando que pode acontecer novamente”, conta.
Maior rigor
“É preciso endurecer e executar a lei”, defende o professor Bruno Generoso, do curso de Medicina Veterinária das Faculdades Kennedy. Dentre as causas para o crescimento dos ataques de cachorros, segundo o docente, estão a falta de sensibilização dos donos e fiscalização ineficiente para combater maus-tratos. “Em geral, um cão se torna agressivo e antissocial por conta da criação”.
Em nota, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) afirmou que as ações não foram implantadas pelos governos anteriores, mas “avalia as possibilidades de reforçar a atuação para situações que envolvam cães e tragam riscos à população”.
Captura
Nos últimos dois anos, em Minas Gerais, pelo menos 1.695 animais perigosos ou agressivos foram capturados pelo Corpo de Bombeiros. As solicitações chegam por meio do telefone 193.
Contido, o cão pode ser devolvido ao dono ou, se ele não o quiser, levado para um canil. “Aqui em BH fica no bairro São Bernardo (região Norte)”, destacou o tenente Thiago Rodrigues.
Segundo o bombeiro, a maior das capturas refere-se à cachorros em situação de rua. “Mas também há demanda dos próprios donos, quando há risco para os moradores”, ressalta.
Leia Mais: