(Flávio Tavares)
Aos 18 anos, a taxista Núbia da Silva Pereira viu o corpo sofrer uma transformação radical. Graças à cirurgia bariátrica, em menos de seis meses ela saiu dos 120 kg para 70 kg. Mas Núbia não estava preparada, sobretudo psicologicamente. Diante de problemas pessoais, ela fez o mesmo que grande parte de quem está acima do peso: descontou na comida e, seis anos depois, havia praticamente voltado à estaca zero, com 113 kg.
O caso de Núbia não é único. Segundo o vice-presidente do Departamento de Cirurgia Geral da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Marcelo Gomes Girundi, de 10% a 15% de quem se submete à intervenção volta a ganhar peso. “Nenhuma cirurgia é à prova de alimentos hipercalóricos. Muita gente esquece de ter uma dieta saudável”, explica.
O estômago é um órgão elástico e pode voltar ao tamanho original, dependendo da técnica cirúrgica. E Núbia sabe bem disso. “Quando a gente faz a redução, todo mundo diz que você não vai conseguir comer, mas é mentira. A pessoa não consegue comer três pães de uma vez, mas de meia em meia hora, e aí vai engordando”, relata.
Vida nova
O inusitado na história de Núbia é que ela resolveu virar o jogo. Aos 27 anos, depois de uma briga na família, decidiu que voltaria a perder peso. Sem sucesso no caminho que parecia o mais fácil (uma nova cirurgia), após a negativa de três médicos para operá-la, resolveu que mudaria sozinha.
“O fim da picada foi quando o médico me falou que eu dependeria de remédios para me manter magra. Chorei por uma semana, mas pensei: vou ficar assim ou fazer alguma coisa? Tinha que provar para mim mesma e para todos que conseguia mudar”.
Formada em enfermagem e com bom conhecimento sobre nutrição, Núbia reformulou a dieta. Reduziu a ingestão de carboidratos, aumentou a de frutas e legumes e incluiu caminhadas e bicicleta no dia a dia.
Em quatro meses, perdeu 23 quilos. E atualmente, aos 29 anos, Núbia eliminou praticamente o que havia perdido com a cirurgia. Ainda assim, não se arrepende de ter feito a operação. “Para mim, que sempre fui gorda, foi muito válido. Pude escolher entre duas realidades. E estar no peso adequado é muito melhor”, afirma.
"Receita" é ter rotina saudável e acompanhamento médico
“A cirurgia bariátrica não é uma vacina contra a obesidade”, lembra o cirurgião Marcelo Gomes Girundi, da AMMG. Preparar-se para o procedimento e fazer um acompanhamento médico pós-cirúgico é fundamental para obter sucesso e manter o peso.
“O paciente tem que entender que a redução de estômago não é milagrosa e que manter-se magro não é fácil. É preciso estar disposto a abrir mão de certas coisas e controlar com médico e nutricionista”, explica.
A psicóloga e master coach Silmara Agda Almeida Pereira lembra também que fazer as escolhas corretas deve se tornar um hábito. “Às vezes nos alimentamos para satisfazer necessidade emocionais. Mas, quando há indicação para a cirurgia, é preciso uma preparação completa, reeducar a mente e recodificar o cérebro”, ensina.
Segundo a especialista, é comum ver pacientes que não conseguiram mudar a rotina e que passaram a abusar do consumo de bebida alcoólica, em função da limitada ingestão de comida.
Problemas que não fizeram parte da história da comunicóloga Ana Carolina de Souza Lima, de 30 anos. Antes da cirurgia, há três meses, a moça preparou-se por quatro anos, período em que conseguiu emagrecer quase um terço dos 140 kg. Com 100 kg, no entanto, Ana descobriu que estava pré-diabética, hipertensa e o peso havia “estacionado”. A dificuldade de manter o emagrecimento levou à indicação médica pela cirurgia.
Atualmente, recuperada da operação, ela não abre mão de alimentar-se bem e praticar exercício físico e planeja criar um site de receitas e dicas de nutrição.
No início do mês, o Conselho Federal de Medicina alterou as regras para as cirurgias bariátricas, ampliando o alcance do procedimento