Atenção Especial

Bebês prematuros podem ter sequelas que comprometem desenvolvimento na infância

Raquel Gontijo
raquel.maria@hojeemdia.com.br
14/05/2022 às 15:37.
Atualizado em 14/05/2022 às 15:57
 (Marcello Casal jr/ Agência Brasil)

(Marcello Casal jr/ Agência Brasil)

As complicações de bebês prematuros vão além do baixo peso. Existe uma atenção e cuidado especial para estes recém-nascidos, já que a imaturidade dos órgãos impactam todos os aspectos do crescimento da criança.

A interrupção do desenvolvimento cerebral natural do bebê pode gerar sequelas que afetam coordenação motora e fala, entre outras disfunções neurológicas.

Para a Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), o nascimento do bebê prematuro ocorre antes que ele complete 37 semanas de idade gestacional. A gestação completa corresponde a 40 semanas, mas pode variar entre 39 e 41 semanas.

A presidente do departamento Científico de Neonatologia da SMP, Albertina Rego, explica que a criança que nasce prematura é “forçada” a se desenvolver fora do útero.

“O prematuro, como o nome indica, apresenta imaturidade dos órgãos, como pulmões, cérebro, coração, intestino e outros. Dependendo do grau de prematuridade, eles demandam cuidados imediatos, logo após o nascimento e nos primeiros dias. Quanto menor a idade gestacional, maior o risco de complicações”, observa.

Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES/MG) mostram que, em 2021, nasceram pouco mais de 239 mil bebês no Estado. Desse total, 26.398, ou seja, 11%, foram de prematuros. A média do estadual tem sido esta nos últimos três anos. No Brasil, a média deste indicador é de 12%.

Em BH, a Santa Casa é referência no atendimento a recém-nascidos prematuros e portadores de diferentes malformações congênitas. De acordo com o hospital, a prematuridade é um dos fatores determinantes mais relevantes da mortalidade infantil. Um prematuro precisa de cuidados especiais na UTI, o que aumenta em três vezes o risco de morte e sequelas futuras para sua vida adulta.

Em 2021, foram realizados, em média, 256 partos por mês. Em todo o ano, foram 191 recém-nascidos prematuros que foram atendidos na UTI Neonatal da Maternidade Hilda Brandão.

Disfunções neurológicas

De acordo com a pediatra neonatologista, do Grupo Neocenter BH, Bárbara Carolina Vieira Nogueira Valério, as disfunções neurológicas em um prematuro podem trazer complicações que envolvem coordenação motora, equilíbrio, postura, reflexos e contrações musculares involuntárias que causam movimentos repetitivos.

A especialista explica que, em cada período da gestação, ocorre  multiplicação, migração e organização de estruturas específicas do cérebro. O nascimento prematuro interrompe essa evolução natural, interferindo no desenvolvimento e no crescimento cerebral do bebê.

“Nesse sentido, o cérebro imaturo é mais suscetível a sofrer lesões cerebrais e, como consequência, o bebê terá um fator de risco maior para apresentar disfunções cerebrais em relação ao bebê que nasce na idade gestacional correta”.

As disfunções neurológicas do prematuro podem repercutir a curto e longo prazos, sendo as principais alteração motora, cognitiva e fala. As sequelas podem ser temporárias ou permanentes, de acordo com o grau da lesão neurológica.

“Os principais impactos são de desenvolvimento motor, de andar, engatinhar, desenvolver a fala. Em geral, a criança apresenta um atraso no desenvolvimento”, esclarece a pediatra.

Bárbara Valério explica que as dificuldades apresentadas pelas lesões permanentes podem ser minimizadas com acompanhamento multidisciplinar. Existem outras sequelas que não são permanentes e têm o seu prognóstico diretamente relacionado à assistência que a criança recebe na primeira infância.

Segundo a médica, é possível por meio de construção, aquisição e interação de novas habilidades fazer uma remodelação cerebral. "Devemos atuar de forma multidisciplinar com o bebê prematuro para aproveitarmos essa ‘janela de oportunidade’ da primeira infância, ou seja, quanto antes cuidarmos do cérebro do prematuro de forma individualizada, melhores serão os resultados", alerta a médica.

Atenção especial 

Em Belo Horizonte, o Hospital Maternidade Sofia Feldman faz até 1.000 partos por mês, de gestantes de diversas cidades de Minas. Aproximadamente 16% desses bebês nascem prematuros.

Na maternidade há uma estrutura especial e uma equipe multiprofissional para acompanhar os prematuros. Os recém-nascidos de alto risco são acompanhados em ambulatórios até os dois anos de idade após a alta.

A pediatra do Grupo Neocenter BH, Bárbara Nogueira Valério, explica que crianças prematuras precisam de tratamento  multidisciplinar, para que a equipe possa atender necessidades específicas, pois cada bebê tem suas particularidades. De forma geral, segundo a neonatologista, a criança deve ser acompanhada, principalmente por um neurologista pediátrico, oftalmologista pediátrico, otorrinolaringologista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo. Durante esse processo, os pais estão presentes e merecem toda a atenção também da equipe médica, inclusive com auxílio psicológico, quando necessário.

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