Bloco de BH abre vagas para cadeirantes tocarem na bateria

Daniele Franco
19/02/2019 às 18:44.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:37
 (Ludmila Abelha)

(Ludmila Abelha)

Se antes o Carnaval de Belo Horizonte já era considerado uma festa democrática, de todos os povos e tribos, a iniciativa do bloco "Quando Come se Lambuza" vem para fortalecer ainda mais essa concepção. Neste ano, a bateria do QCSL vai ser composta, também, por músicos cadeirantes ou com mobilidade reduzida.

Batizado como Bateria Arredondante, o conjunto já reúne 14 músicos e ainda tem vagas para quem tiver interesse. "Tem sido uma experiência sensacional e uma oportunidade de mostrar ao mundo que as pessoas com deficiência tem capacidade de participar, de estar junto com a galera, acho que vai ser uma quebra de paradigma muito grande quando a gente desfilar inserido na bateria", comemorou o analista de sistemas Edson Rosa, que é cadeirante há 14 anos e contou que soube da iniciativa por meio de um grupo de amigos também cadeirantes.

O desfile dos cadeirantes contará uma estrutura móvel, que vai permitir que os músicos sejam levados junto com bateria. "A plataforma serve mais como um ponto de apoio, porque fica a cargo dos músicos se eles querem desfilar nela ou no meio dos demais membros da bateria", explicou o produtor do bloco, Christiano Ottoni.

Segundo Ottoni, a iniciativa vem somar às outras pautas sociais defendidas pelo bloco desde sua fundação, em 2014. "O Carnaval de Belo Horizonte sempre foi um movimento muito político, além da folia, sempre tratou bem pautas, e o QCSL também se inseriu nesse contexto, tanto que temos bandeiras já consolidadas sobre a visibilidade trans e o combate ao assédio, por exemplo". 

Nas palavras do produtor, "sentimos que essa pauta dos cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida não estava tão incluída, pois ela demanda também uma determinada estrutura, mas era uma demanda urgente, o que nos levou a procurar a Skol, que é nossa parceira de longa data e também aposta nesse tipo de pauta".

A reação do público do bloco, que de acordo com Ottoni, está sendo a melhor possível. "Nosso público tem elogiado muito nas redes sociais, e a aceitação entre as pessoas com deficiência também está sendo incrível. No começo nós percebemos uma certa desconfiança, mas entendemos a reação e trabalhamos bastante para que todos se sentissem à vontade e acolhidos", detalhou o produtor.

No ano passado, o bloco arrastou 150 mil foliões pelas ruas da capital.

Outras iniciativas

A Bateria Arredondante não é a primeira iniciativa de inclusão no Carnaval belo-horizontino. Uma das pioneiras foi o bloco "Todo Mundo Cabe no Mundo", idealizado pelo artista visual Marcelo Xavier, de 69 anos. Desfilando há quatro anos na capital, o bloco traz à tona a pauta da inclusão além da mobilidade. Na bateria, se misturam pessoas com várias diferenças e vários tipos de deficiência.

Para Xavier, projetos como a Bateria Arrendondante são muito importantes e mostram de forma ainda mais clara o caráter democrático do Carnaval de BH. "É muito bom ver a alegria do Carnaval se expandir e ser levado para mais pessoas. Ele é uma festa da qual temos que nos orgulhar, não há que se ver de forma negativa, porque passamos o ano todo no sufoco, por que não podemos desfrutar desses quatro dias para nos expressarmos livremente?", indagou.

O artista ainda convida todas as pessoas com deficiência que se juntem à festa. "Não fiquem só em casa assistindo ou ouvindo histórias da alegria das ruas, participem, ocupem os espaços e mostrem que um cadeirante é só uma pessoa comum, mas com a cadeira. A cadeira permite que a gente se movimente, ela é um bem para o cadeirante, vamos utilizar as possibilidades que ela nos dá".

Ensaios

Até o momento, a Bateria Arredondante tem dois ensaios marcados, um no próximo domingo (24), no Mercado da Boca, a partir das 15h, e um no dia 28 de janeiro, na Quadra da Escola de Samba da Cidade Jardim, a partir das 20h. Cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida que quiserem participar, podem entrar em contato pelas redes sociais do bloco Quando Come se Lambuza.

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