(Maurício Vieira )
A cada dia, cem pacotes abarrotados de roupas, capas de celular, bolsas, pen drives, óculos, chinelos, brinquedos e cigarros, só para ficar em alguns exemplos, são apreendidos em BH. De janeiro a maio deste ano, 15 mil embalagens com mercadorias irregulares de ambulantes foram recolhidas, segundo a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas (SMPU). Os números comprovam que, dois anos após a operação para retirar camelôs das ruas, a presença deles ainda desafia a fiscalização.
Crise econômica e desemprego ajudam a explicar o cenário nas vias públicas. O principal exemplo está no hipercentro da capital. Lá, nem a presença de fiscais da prefeitura é suficiente para intimidar os trabalhadores informais, que ignoram os riscos de perder os produtos e pagar multa de mais de R$ 2 mil. Muitos armam bancadas em frente às lojas, quase sempre em locais de grande circulação de pedestres.
Alguns chegaram a migrar para centros de compras populares, em 2017, mas alegaram dificuldade de adaptação e retornaram à região central. A concentração é maior nas ruas dos Carijós, Tamoios, Caetés e Paraná. “Para a gente que é autônomo, o sustento está é na rua. Shopping a gente deixa para os coreanos e chineses, que têm dinheiro para montar loja grande”, afirma um homem que, atualmente, aproveita a queda na temperatura para vender toucas e luvas.
Ele diz ter consciência dos perigos da atividade irregular, mas justifica a prática com a necessidade financeira. “Tenho mulher, filho e aluguel para pagar. Preciso ganhar meu dinheiro, tenho que ir onde ele está, que é aqui”, pondera.
Nos arredores da Praça 7, uma vendedora de cigarros San Marino conta que a situação atual “não é uma escolha”.
“Com tanta gente sem emprego, a gente tem é que se virar do jeito que dá. Se é irregular ou não, o que importa é que a gente trabalha de verdade e sobrevive de forma digna”, explica a mulher de 49 anos que cria, sozinha, quatro filhos.
Prejuízos
Lojistas da região, no entanto, reclamam. Uma vendedora de roupas de cama que pediu para não ser identificada e atua há dois anos no Centro, afirma que “a concorrência com os ambulantes é desleal”, vez que eles vendem os mesmos produtos dos estabelecimentos, mas não pagam impostos.
Para as entidades que representam os comerciantes, o problema da informalidade voltou a ser grande preocupação. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) informou, por nota, que “a atividade dos camelôs causa impactos negativos, não só no comércio formal, que cria empregos, renda e paga impostos ao município, mas também para toda a população, impactando negativamente na economia da cidade”.
Ambulantes se espalham por diferentes regiões da capital
Longe do hipercentro, a presença dos camelôs também pode ser facilmente verificada em diferentes regiões de Belo Horizonte. A situação é mais delicada na avenida Abílio Machado, no bairro Alípio de Melo, região da Pampulha. Lá, a situação parece estar fora de controle.
Há muitos camelôs sobre as calçadas, vendendo os mesmos produtos comercializados no Centro, sem qualquer sinal de fiscalização. Um gerente de uma loja de calçados, que pediu anonimato, afirma que já foi ameaçado por um torero que vendia chinelos em frente ao estabelecimento. “Estamos abandonados aqui. Não há nenhum tipo de ação e, a cada dia, tem mais camelôs na nossa porta”, diz.Lucas Prates
Na avenida Abílio Machado, no bairro Alípio de Melo, camelôs disputam um lugar na calçada
A venda de mercadorias irregulares também é notada nas avenidas Visconde de Ibituruna, no Barreiro, e Úrsula Paulino, no Betânia, na zona Oeste. Nesses locais, os trabalhadores informais atuam a poucos metros de fiscais sem ser incomodados, conforme constatou a equipe de reportagem do Hoje em Dia.
Os exemplos não param por aí. Na avenida Alfredo Balena, na área hospitalar, e na Padre Pedro Pinto, em Venda Nova, há um número menor de ambulantes, mas não é difícil encontrá-los nas calçadas.
Repressão
A prefeitura informou que o trabalho da Subsecretaria de Fiscalização para coibir o comércio irregular nas ruas é realizado diariamente em toda a cidade. “A ação é feita por fiscais e agentes de campo, o que contabiliza cerca de 580 pessoas”, informou o órgão, por nota.
A PBH destacou, ainda, que o município “atua como parceiro dos camelôs cadastrados que optarem por desenvolver atividades nos shoppings Uai Centro e O Ponto, em Venda Nova, e subsidia parte do valor do aluguel”. Hoje, cerca de 300 boxes estão ocupados nos dois centros de compras.