Perder os cabelos, para muitas pessoas, pode significar também a perda da autoestima. No caso de mulheres em tratamento contra o câncer, a situação é ainda mais delicada. A ausência dos fios é um agravante emocional para um corpo já fragilizado. Pensando nisso, um grupo de voluntários de Belo Horizonte organizou uma campanha de corte e arrecadação de cabelos para a confecção de perucas para quem está lutando contra a doença.
Amanhã, homens, mulheres e até crianças interessados em doar parte das madeixas poderão ajudar pacientes do Hospital da Baleia. Os fios serão destinados a mulheres de baixa renda que fazem quimioterapia ou radioterapia.
Essa será a segunda edição do Corte Amigo, evento liderado pela ONG Ombro Amigo em parceria com a organização Que Seja Leve, Que Seja Breve – que confecciona as perucas. Em fevereiro do ano passado, o grupo conseguiu 182 doações, número que superou expectativas da estudante de direito Maria Fernanda Fontes Viana, fundadora da iniciativa. Agora, ela espera ter ainda mais adesões à campanha.
Solidariedade
Para participar é necessário ceder pelo menos 10 centímetros dos fios. Qualquer tipo de cabelo é bem-vindo, mesmo os que têm tintura. O corte é feito gratuitamente por cabeleireiros voluntários. “Tem muita gente que já está com o cabelo curto, separa o pedaço que tirou para doar e leva para nós”, conta Maria Fernanda.
Segundo ela, muitas pacientes vêm do interior do Estado e fazem o tratamento sozinhas na capital. “Olhar no espelho e se ver careca é um lembrete diário que você carrega uma doença que te deixa entre a vida e a morte, e nós queremos amenizar isso”, acrescenta a idealizadora, que cortou os próprios cabelos há uma semana para participar das doações.
A cabeleireira Marcela Teodoro Faria encontrou no projeto uma chance de ajudar pessoas fazendo algo que gosta. “É o meu trabalho. É o que sei fazer bem”, diz. Ela irá participar da ação pela segunda vez.
Sem estigmas
Convivendo há dez anos com um linfoma nas mamas, a costureira Cleuza Vieira Roberto, de 62, recuperou a vontade de se relacionar com as pessoas há alguns meses. Ela foi uma das beneficiadas com as perucas, em agosto de 2016. Cleuza lembra que, durante esse tempo, o momento que mais a abalou foi quando os cabelos caíram.
A costureira destaca, porém, que não se enxergava de forma negativa, mas percebia que a careca reforçava o estigma da doença e a afastava dos outros. “Eu vi que as pessoas tinham medo de conversar comigo. Acho que elas se assustavam. Agora que uso a peruca, vi que todos têm mais coragem de se aproximar, me tratam mais naturalmente”, conta.
Ela disse que passou a se sentir mais bonita depois que adotou a peruca. “A gente se acostuma e passa a se sentir bem, ainda mais porque é feita de cabelos naturais. Quando me canso, coloco os lenços”, diz.