(Frederico Haikal)
O melhor é não marcar bobeira, como aconteceu com o cantor Moreira da Silva, senão o bicho pega e aí pode ser tarde demais. O problema é tão sério que ganhou até um “Novembro Azul”, devido ao alto índice de mortes entre os homens. Afinal, o câncer de próstata é o segundo tumor mais diagnosticado entre os brasileiros, ficando atrás somente do câncer de pele não-melanoma. Então, todo cuidado é pouco. Primeiro é preciso ser forte e esclarecido o bastante para derrubar o preconceito. O exame de toque é o único capaz de detectar sem erro a doença e, ao contrário do que muitos pensam, não é prolongado nem profundo. “Bastam dez segundos. A próstata fica a apenas três centímetros do ânus, ao lado do reto, e, portanto, o exame é muito rápido”, diz o oncologista Luiz Otávio Torres. Mas o fato é que os repórteres sempre ficam desesperados na hora de encontrar homens que falem sobre o assunto de peito aberto. Testemunho No caso do assessor parlamentar que se identifica, no Facebook, como Luís Galo, o motivo da discrição é político. Ele pediu para não ser identificado com o nome real, mas contou que há dez anos se submete ao exame. “Estamos no mês da campanha nacional de prevenção ao câncer de próstata. É algo que deve ser levado muito a sério, mas que mexe com o afetivo”, postou na rede social. “Fiz o meu há dois meses. ‘Ele’ (o médico) toca. Depois passa um ano sem mandar um e-mail sequer. E a gente sai achando que é o único!”, brincou. Piadas à parte, o assessor confirma a “velocidade” do procedimento. “Cem por cento dos homens que se submetem pela primeira vez se surpreendem não só pela rapidez, mas por tomarem conhecimento de que o toque não é profundo”, diz. “Um amigo deixou de fazer e acabou tendo que operar”. O jornalista M., de 58 anos, não se descuidava e fazia exames de sangue (PSA) e toque anualmente. Mesmo assim, foi surpreendido pela doença. “O PSA indicou uma alteração. A próstata estava comprometida nas duas laterais e foi retirada em uma cirurgia que durou três horas. É uma doença silenciosa e só descobri porque faço check-up todo ano”, conta. Assintomático “Não há sintoma algum nem como evitar. O câncer de próstata ocorre em um a cada cinco homens. O toque aponta a suspeita”, explica o oncologista Torres. Segundo ele, o ultrassom só permite medir o tamanho da próstata. Por isso é importante o toque, o PSA e avaliações de seis em seis meses em quem tem histórico da doença na família. Os tratamentos contra o tumor não mudaram nos últimos anos. “Na fase inicial, cirurgia. Em determinados casos, radioterapia ou braquiterapia, ou tratamento hormonal, dependendo da situação”, diz o médico. Quando o diagnóstico é precoce e o tratamento, adequado, a doença tem cura. Primeira parada é no posto de saúde - A Secretaria de Estado de Saúde orienta os mineiros a procurar a unidade básica de saúde mais perto de casa para fazer os exames preventivos indicados pelo médico. - Se necessário, o profissional encaminhará o paciente a outros serviços especializados. - “O diagnóstico precoce é a principal arma contra o câncer de próstata”, diz Verônica Botelho da Costa, referência técnica da Diretoria de Políticas de Atenção Primária à Saúde. - Em Belo Horizonte, há 147 postos e 583 equipes de saúde da família, que cobrem 84% da população do município. Urologistas adiam idade para primeiro exame A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) decidiu aumentar de 45 para 50 anos a idade mínima recomendada para que um homem faça os exames rotineiros para diagnóstico precoce do câncer de próstata. O objetivo é evitar tratamentos radicais para tumores que não são agressivos. A nova orientação será anunciada no próximo dia 16, durante o 34º Congresso Brasileiro de Urologia. Para homens negros, obesos ou que tenham histórico familiar, a idade passa dos atuais 40 para 45 anos. O presidente da SBU, Aguinaldo Nardi, informou que 25 especialistas se reuniram para discutir e atualizar a prática. Segundo ele, o “rastreamento oportunista” (quando o homem procura voluntariamente o médico para fazer exames a partir de certa idade) precisa existir como forma de prevenir a doença.