Carreira de "repressor" do major Curió começou no interior de Minas

Alberto Sena - Hoje em Dia
18/03/2013 às 06:40.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:58
 (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

A vocação de perseguidor de “comunistas e subversivos” de Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió – o mais conhecido oficial vivo do regime militar brasileiro (1964-1985), reformado com a patente de coronel –, teve início pelo menos 13 anos antes do golpe de 1964, na terra natal, São Sebastião do Paraíso, Sul de Minas. De fato, a carreira dele começou em 1951, quando Getúlio Vargas ainda era presidente da República.

Essa passagem da vida de Curió não se acha no livro do jornalista e escritor Leonencio Nossa, sobre os arquivos secretos da ditadura, intitulado: “Mata – o major Curió e as guerrilhas no Araguaia”. Naquele ano da “Era Vargas”, o militar prendeu 11 conterrâneos, investido na condição de sargento do Exército. O sonho de Curió, todos sabiam, “era ser militar para defender a pátria, porque achava bonito”.


Requerimento
 
O Hoje em Dia teve acesso ao “requerimento de anistia” de um desses 11 conterrâneos de “Tião Pancinha”, como Curió é chamado na cidade, de nome José Paes, sapateiro e poeta. Paes caiu em desgraça desde quando foi preso por Curió, em São Sebastião do Paraíso, em 1951. “Os clientes e os amigos perderam a confiança” no seu trabalho.

Será que hoje alguém ainda seria “preso político” só pelo fato de ter participado de manifestações contrárias “ao alto preço da carne bovina”, em defesa dos mais pobres? Certamente, não, mas em 1951 foi o motivo alegado pelo sargento Curió para prender Paes.

No dia 9 de abril de 1964, 13 anos depois, Paes foi preso pela segunda vez, com outras 15 pessoas, pelo mesmo Curió, desta feita encarnando a farda de um 1º tenente do Exército (no seu livro, Leonencio Nossa chama Curió de capitão, nesta passagem).


Reparação
 
Ao final, restou o indiciamento de Geraldo Borges Campos, primo de Curió, e Braz Alves Vieira, que acabaram absolvidos, como relata o historiador Renato José Paschoini, hoje professor em São José dos Campos (SP). Ao ser solto, Geraldo ganhou uma festa da família, mas morreu no dia seguinte, de enfarto.

Paes pediu anistia ao Ministério da Justiça em novembro de 2011, pleiteando reparação econômica “por perseguição e torturas”. Há um ano e meio, ele morreu e o pedido ainda não havia sido deferido.
 
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