(Flávio Tavares)
Há um mês, a advogada Gabriella Lapouble, de 33 anos, resolveu se casar no Parque Bandeirante Silva Ortiz. A decisão foi tomada depois que a mãe dela apadrinhou a área verde localizada no bairro Estoril, região Oeste de Belo Horizonte.
Gabriella optou por uma cerimônia simples, mas que possibilitasse a contemplação na natureza, mesmo sendo dentro da cidade grande. O objetivo dela é promover a conscientização para a preservação destes espaços públicos. , cerca de 90 convidados vão se espalhar pelos mais de 9 mil metros quadrados do parque. Embaixo de uma árvore sucupira, ela e o noivo, Luis Roberto, receberão a bênção do padre em um casamento “ambientalmente sustentável”.
Uma das exigências da Fundação de Parques Municipais de BH (FPM) para a autorizar o casamento é que nenhum mobiliário fixo seja colocado no local. O ambiente também não pode sofrer alterações, como quebra de galhos ou abertura de buracos no gramado.
A guarita do hall de entrada do parque será usada como buffet. Será colocado o mínimo de mesas, para crianças e idosos. Na decoração, nada de balões. “O plástico agride a natureza”, diz a noiva. Após o evento, todo o ornamento deverá ser retirado.
Lazer e eventos
Segundo Gabriella, por conta própria, ela e o noivo deram uma contrapartida ao parque, pois não foi feita ao casal nenhuma exigência financeira. Novos corrimões foram instalados nos corredores da entrada do parque – que receberam tinta fresca. “Projetos como esse mostram que quanto mais parques forem usados para lazer e eventos, mais participativa será a comunidade e menos depredado o local”, observa.
O projeto inusitado ganhou repercussão. Gabriella criou a página no Facebook “Um amor de Parque”, dando visibilidade à casamentos sustentáveis e em locais públicos. O esforço para a revitalização e os preparativos do casamento chamou a atenção de outros noivos e várias empresas apoiaram a ideia. “Todos se envolveram de alguma forma, oferecendo desde forminhas de tecido até o padre”.
Guardiã
A ideia de fazer o casamento no parque foi da mãe da noiva, Dominique Lapouble, de 56 anos. Sempre que passeava com o cachorro da família no local, ela percebia que o lugar estava cada vez mais abandonado. Em abril, após ouvir falar que por redução de gastos a prefeitura poderia fechar a área verde, Dominique não teve dúvida: entrou em contato com a Fundação de Parques Municipais. “Me deem a chave. Me comprometo a abrir e fechar o parque diariamente. Vou apadrinhar a praça e zelar pelo patrimônio”, disse.
Com o trato feito, ela passou a reservar parte do dia para cuidar do espaço. Agora, a “guardiã” não dá trégua aos praticantes de parkour, que por vezes quebravam corrimões, e donos de cães que não usam sacolinhas para recolher as fezes dos animais.
“As pessoas precisam se conscientizar que o patrimônio público é de todos. É prazeroso conversar com os moradores e perceber que o senso de comunidade é despertado por ações de apadrinhamento como essa”, comemora.
Revitalização
A Prefeitura de BH nega que o espaço estava abandonado. Segundo a Fundação, o local está sendo revitalizado e já recebeu reparos nos guarda-corpos quebrados, pintura nas edificações e plantio de mudas como ipês e pau-brasil.
O parque não é vigiado pela Guarda Municipal. A manutenção é feita por funcionários do departamento operacional Oeste/ Barreiro.
Segundo a prefeitura, o maior desafio em relação aos parques é a manutenção, pois o resultado depende do uso adequado pela população. Neste sentido, a participação da sociedade é fundamental na ocupação e apropriação dos espaços de forma respeitosa, evitando ações de vandalismo e depredações.
“É muito fácil cruzar os braços e dizer que fez sua parte pagando o IPTU. Nós delegamos muita coisa ao poder público, mas depois não cobramos. Por isso, as coisas ficam do jeito que estão. Temos que cuidar do que é nosso”, adverte Dominique.