(Maurício Vieira)
O primeiro trimestre deste ano nem acabou e já traz uma preocupante estatística. De janeiro a março, o Minas registrou mais de 66 mil casos de dengue – 127% maior do que todas as notificações em 2018 no território, quando foram pouco mais de 29 mil.
De 17 de fevereiro até o último dia 16, 93 municípios mineiros apresentaram alta ou muito alta de incidência de casos, informou a Secretaria de Saúde (SES). Até agora, seis mortes pela doença foram confirmadas e outras 27 são investigadas.
Contagem, na Grande BH, é uma das localidades que demandam atenção. Por lá, em 2019, já são 3.301 notificações de dengue, contra 1.274 nos doze meses do ano passado.
Um dos casos é o de João Vítor, de 5 anos, morador do bairro Industrial São Luiz. O menino começou a apresentar os sintomas da enfermidade em 18 de março. Foram três dias de internação.
O pai do garoto, Anderson Mayrink, de 47, afirma que outros vizinhos também foram infectados. Os moradores acreditam que o foco do mosquito Aedes aegypti está em um galpão abandonado entre as ruas Maripá e Monte Belo. “Tem muito mato e água parada. Não teve capina e ninguém tem acesso porque está murado”, disse Anderson.
A Prefeitura de Contagem pretende construir um centro de saúde no terreno e, até na próxima semana, promete limpar o espaço. No momento, “está priorizando a limpeza das escolas municipais e dos postos de saúde da região”, afirmou a pasta, em nota.
Ciclos
Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano diz que já era esperada a explosão de casos em 2019. Segundo ele, é comum as epidemias de dengue terem ciclos a cada três anos. A última foi em 2016.
“Vários fatores explicam. Existe a mudança do vírus em circulação. As pessoas ficam imunes durante um tempo para um tipo, mas depois aparece outro. Também tem a ver com as mudanças populacionais nos grandes centros e a circulação de pessoas”, detalha o especialista.
O médico diz, ainda, que a população tende a relaxar no controle dos focos de criação do Aedes em época de controle da enfermidade.
Rodrigo Said, coordenador do Programa de Dengue do Ministério da Saúde, destacou que, neste ano, voltou a circular no país o sorotipo 2 da dengue, que há muito tempo não era registrado – o último surto foi em 2002.
O gestor afirma que equipes da pasta acompanham Brumadinho, atingido pelo rompimento da barragem em 25 de janeiro. Existe a preocupação de que, com o impacto ambiental provocado pela tragédia, haja um expressivo aumento de vetores.
Combate
Em nota, a Secretaria de Saúde de Minas afirma que a combinação de tempo quente e chuvoso favorável à proliferação do mosquito são os causadores do aumento de casos, que também já era previsto. “Até o momento, 2019 segue a tendência de anos epidêmicos, no entanto, com menor intensidade que as duas últimas epidemias”.